30.6.12

planeta de plumas



delícia, você: pequeno príncipe enjaulado com o peito a descoberto. eu me concentrando em bares, bebendo tal & qual a tua indiferença de copo em copo, cinzeiro sujo até a tampa, aquela doce babaquice que me envelhece por dentro antes do tempo.
os postais desviados por mero desacordo ortográfico de tempo & espaço entre destinatário & remetente. o carteiro que ouve as minhas queixas. retaliação ao processo que se transforma em inferno nos dias de correspondência acumulada, chuva desnecessária, ritual sádico das individualidades cotidianas.
daí investigo que o look do dia é uma fraude. minhas barbas de molho enquanto lavo as mãos & entrego as sujeiras da memória aos deuses parados, calados. lazers no olhar desintegrando realidade animália que me populariza nas sombras. quintal sem galinhas onde fujo da quizumba & me escondo na alcova da empregada.
não há perdão: pobre de você, tão jururu ao lado da piscina.
dizem que este é o remédio para quem marcou um x no mapa do amor. dizem que este é o perigo disfarçado no zoom das fotografias. meu rosto que abocanha algum orifício preso na parede dos teus lábios, como se eu te abraçasse como amigo & no fundo tirasse uma casquinha.
então lalheska lanvin me convida para o limbo dos drinks até a meia-noite. cruzamos as pernas numa antipatia inevitavelmente catastrófica, porém nos desintegramos a medida que a música atrai uivos & aplausos – nos recusamos aos bailes de máscaras por falta de dinheiro, ascensão & simpatia.
uma espécie de satanismo do coração.
queria que você me amasse pra caralho, ou que experimentasse o buraco azul piscina onde me afundo? ser quem ele foi & gritar o que ele tem que eu não tenho. talvez a amarelice desbotada  de quem nada diz – ou na pior das hipóteses, eu seria um lixo reciclado entre quatro paredes.
o mel de tanta desconexão. nuvens de leões ferozes aqui esculpidos. mas por você eu daria piruetas, aceitaria sem piscar duas vezes minha lua em peixes.
regra do aqui se faz, aqui se paga. espero concomitantemente como o primeiro da fila, olhar fixo de pedra, boca suspensa no fim do jogo. protocolo da convivência pacífica com o espaldar do mundo. visto negado por tempo indeterminado no aeroporto de xangai.
peço que não insistam no papo, hoje acordei líquido. 
quem me jogou fora, de longe observa meu rastro de sangue ou o plano para o próximo livro sem festa, licor, balacobaco.
acreditem enquanto é tempo. 

17 comentários:

  1. mas antes amar um amor solitário do que estar com o coração seco como pedra, viu.
    precisamos de mais amor, de mais amar, seja como for, mas sempre, sempre, sempre depois do amor próprio, tá?
    um beijo!

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  2. E eu estou jururu sem piscina. Querendo alguém que me ame pra caralho e que acredite. Enquanto é tempo.

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  3. Tempos de vacas magras, meu caro.
    E eu acredito porque preciso. Além do tempo.

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  4. Não há tempo... descobri. GENIAL! Abraço.

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  5. Da ate vergonha de comparar as bobagens que eu escrevo com isso aqui, ne?

    Que texto maravilhoso!

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  6. Olá!
    Seu blog é muito interessante,gosto de suas escritas.
    Grande abraço
    se cuida

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  7. "uma espécie de satanismo do coração."
    Ele faz dessas com a gente as vezes, né? :/

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  8. belo texto, parabéns! mas se vc me permitir uma crítica, vc repete algumas palavras, um exemplo é a palavra tempo nos dois primeiros parágrafos, acontece tb com outras, que atrapalham um pouco a leitura. mas no mais seu jeito de escrever é muito bom, gosto do sabor acre.

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  9. Que texto marcante, profundo em todas as palavras!
    Um abraço.

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  10. Lindoooooooo! Caraléo! Li sem respirar!

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  11. muito obrigada pelas suas palavras!

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  12. "queria que você me amasse pra caralho, ou que experimentasse o buraco azul piscina onde me afundo? ser quem ele foi & gritar o que ele tem que eu não tenho. talvez a amarelice desbotada de quem nada diz – ou na pior das hipóteses, eu seria um lixo reciclado entre quatro paredes." - não pude deixar de lembrar aquela musica dos anos 80... E com ela aquela outra - http://www.youtube.com/watch?v=mL4Yn6PSBg0&feature=related

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