26.12.11

orangotango


Não consigo largar os cigarros. Caio em tentação após cada baforada. Penso na vida e eis uma verdade: nem mesmo eu consigo me levar a sério anymore. E isso faz parte dos planos de sobrevivência – sem que eu perceba? – pois já não me importo com os solavancos do destino que, por mais que se tente, não mostra as garras, e sim mar calmo, azul, pacífico. Não é por afronta ou vingança que os meus diários conspiram a favor de um insight versus tom blasé, numa mistura de códigos e suspeitas. Meu coração já não é uma arma. O tempo passa e é preciso organizar as horas, os papéis amontoados, as fotografias, separar o joio do trigo, escrever cartas, encarar o rosto no espelho, planejar viagens, cumprir as obrigações dos dias, ler, lavar os pratos, cruzar engarrafamentos, superar os traumas de infância, enxergar de perto o amor que se tornou fragmentado etc.

Imagem: Geraldine Kang

17.12.11

trevas em luz


 
Ando cada vez mais dependente de mim mesmo, o que me faz pensar que:

1) não tá fácil pra ninguém, mas se as coisas fossem fáceis, eu me contentaria com meia dúzia de bananas; 2) tô transformando trevas em luz com pencas de bicudas de pensamentos peregrinos, no caso; 3) não senti nada além de mal estar e revolta com o caso da filha da puta que matou o pobre do yorkshire – e que essa mulher seja condenada, e que as pessoas tomem consciência de que a agressão contra os animais é crime. esse caso tomou uma proporção tão grande que até foi assunto de mais uma conversa com o taxista na volta pra casa, enquanto eu segurava um conjunto de panelas teflon etc; 4) e as ideias sobre o que escrever? bom, ando pendurado nas garras da inspiração e acho bacana essa decisão de textos mais leves, cotidianos, o lance de brincar com as próprias merdas e no fim das contas soar como “literatura”; 5) cada vez mais concordo com Márcia Denser quando ela diz que as pessoas confundem profundidade com obscuridade (ou ao contrário); 6) já não estou mais disposto a responder perguntas sobre o amor ou lançar meus conselhos amorosos, pois sou a pessoa mais desorganizada emocionalmente a tratar desse assunto; 7) e não é que me livrei de um sabotagem onde eu mesmo era a maior vítima e o maior tolo ao perder o meu tempo com pensamentos destruidores sobre mais uma daquelas pessoas de merda que cruzam a nossa vida?; 8) 2012 será o ano do impenetralismo e do olhar plástico sobre as coisas que devem ser vistas, e quem sabe descartadas; 9) em plena correria ao shopping, sob um sol apocalíptico sem precedentes ou remissão dos pecados, me contentei em comprar um spray pro cabelo, uma agenda preta-básica para anotar tendências e um reparador de pontas para o meu cabelo; 10) o diferencial no decorrer da vida é uma questão de design.

Imagem: Isolde Woudstra 

11.12.11

bestiary tape selection

Resolvi selecionar algumas músicas e montar essa bestiary tape selection de vibe tranquila - como forma de encarar o ano que passou com um sorriso no rosto e aquele momento em que os planos tomam conta de nós. Acho que serve como trilha-sonora para os domingos, ou sábados de manhã, quando o dia é azul e ensolarado. E até mesmo como som ao fundo enquanto você limpa a sua geladeira.

oh, really?

Noitadas desmarcadas por n motivozinhos, sweetie. Super forçação de barra e eu em cima do muro com os meros tons de boa mocidade. Eu misturo tudo neste diarinho que é uma colcha de retalhos – meu relatório dos dias etc. 

Sábado à noite, em casa, planos no bueiro da mistureba de indecisões, pois não tenho mais idade, tempo ou psicológico pra isso. Simplificar as coisas é uma decisão sábia. Ando com aquela sensação de que as influências devem ser limitadas? Mais uma vez o lance do que é do homem o bicho não come. Vamos beber, cometer excessos, fazer loucuras e parar no momento certo. A previsibilidade das farras, da ironia, dos preconceitos adquiridos também soam como uma auto-sabotagem dos infernos. 

A ressaca de hoje foi uma fera que resolveu mostrar seu belo sorriso somente às duas da tarde. Fica o registro do “prefiro ficar” em casa.

Quando tudo está muito chato eu sento e escrevo. J. telefonou e de repente me vi dando conselhos amorosos, mas justo eu?

2.12.11

diário & co.

 
Vou transformar este espaço num diário & co. Acredite quem quiser, chegou a hora; eu: o amante dos diários. E vou misturar verdades pessoais com códigos e regras da amarelinha, enquanto novos ventos surgem e eu possa então dar início aos planos – pois não há nada mais libertador e clichê do que encarar o ano que se aproxima com táticas de sobrevivência, pois é preciso.

2011 foi a vingança que não deu certo. O ano em que amizades foram consolidadas. Perdi o controle em alguns momentos, mas tudo foi parte de um processo que ainda não chegou ao fim, pois o fim e o tempo são regras impostas por nós, homens tolos, com os corações em fragalhos. Fingimos que tudo está ok quando na verdade o que está ao nosso alcance é uma rota de fuga.

E eu fugi, me embebedei, sofri horrores, dei boas risadas e estou aqui, na sexta-feira negra, enigmática. Sexta que é um convite à dança, aos drinks, ao fuzuê dos jovenzinhos deslumbrados.

Cansado, após um dia intenso de trabalho e a notícia de que uma pessoa morreu num acidente de trânsito. Um conhecido que eu vi pela última vez há dois dias. Um rapaz jovem, bonito, calado, motoqueiro atropelado por um caminhão e que hoje está sem vida. E as pessoas morrem. E existe a morte. E por uma questão de segundo deixamos de existir, deixamos pra trás uma história que, enquanto viva, deve ser escrita, aproveitada, engolida ao máximo – somos isso até que o próximo minuto nos alcance.

Desmarquei encontro com J. por causa de amenidades, exaustão. Me convidaram para curtir o sol de sábado na praia. O sábado é o meu dia favorito da semana, no sábado tudo é azul, brilhante, nítido, é a cor da felicidade. Mas por eu não ser uma pessoa de praia, também recusei o convite de pessoas mais que queridas. Me contentarei com seus sorrisos nas fotos e seus bronzes a ofuscar minha indisposição de preguiçoso em pleno day off.

Há poucos minutos, numa conversa com J. por telefone, nos deparamos com aquele ditado-batata que é a mais pura verdade: “o que é do homem o bicho não come”.

Você está aí, eu estou aqui, cada um com a sua história, cada um com o seu pingo de sensibilidade no coração. - Por Antônio LaCarne

sexta, 12 de dezembro de 2011