29.12.13

LOOK DO DIA

o domingo rendeu:

três episódios de “the twilight zone”;
alguns contos do cortázar;
solidão pacificadora;
páginas do diário;
tv ao fundo;
networking;
ecos de “oh boy”;
planos íntimos e clichês para 2014;
realidade niilista.

25.12.13

TRÊS FILMES SOBRE NOSSAS VIDINHAS




Eu não sei vocês, mas eu tenho o hábito, ou melhor, o vício de me projetar em filmes, livros, pessoas, situações e dramas. Como pobre mortal, acho que essa é uma forma de encarar melhor a realidade e tornar a vida mais, digamos, vivível.

Há meses, procurei desesperadamente por filmes onde eu pudesse ter um real senso de identificação. O primeiro deles foi Tiny Furniture (EUA, 2010) da Lena Dunham (já escrevi sobre ele no blog).

Então saí numa caçada em busca de histórias mais ou menos com a mesma temática: jovens de vinte e tantos anos que não sabem o que fazer de suas vidas, outsiders contemporâneos sem nenhum glamour, solitários diante do mundo-cão que exige que você seja isso ou aquilo.

Além de Tiny Furniture, a grande satisfação de 2013 foi Frances Ha (EUA, 2013), e por último, Oh Boy (Alemanha, 2012) que assisti na noite de Natal.

Esses são três bons exemplos que retratam a “geração que não deu certo” na visão de jovens cineastas sob a perspectiva da falta de esperança e motivação, ou de pessoas que sucumbem à ausência de problemas verdadeiramente sérios e dramáticos. Tudo gira em torno da relação entre os indivíduos e os famosos dilemas pessoais.

As narrativas em si são simples, e o que mais me chamou a atenção foi a despretensão no desenrolar dos fatos, pois em momento algum o gênero “filme cabeça” cai como uma luva.


Super recomendo para dias de solidão em casa, feriadões, ou quando você quiser se livrar do mundo por algumas horas.

23.12.13

ANA CRISTINA CESAR & UM SIMPLES CAMPONÊS SERVIL


Eu poderia começar este texto assim:

Lendo e relendo a obra poética de Ana Cristina Cesar, eu tento decifrar o mapa circunstancial da palavra-registro, do registro que se revela pela metade, do relato íntimo através de cartas; e de uma espécie de confidência sem ritmo que oscila entre a realidade confessional e a literária. Como ela mesma escreveu em “Correspondência Completa”, livreto composto por uma única carta em edição artesanal de 1979: “Fica difícil fazer literatura tendo Gil como leitor. Ele lê para desvendar mistérios e faz perguntas capciosas, pensando que cada verso oculta sintomas, segredos biográficos. Não perdoa o hermetismo. Não se confessa os próprios sentimentos. Já Mary me lê toda como literatura pura, e não entende as referências diretas”.

Mas não, só preciso manter o registro de que Ana C. é  minha poeta brasileira favorita. “A Teus Pés” é a bíblia dos meus dias, o meu livro-consolação/obsessão, o conforto para o vale de lágrimas, o diamante mais brilhante da cabeceira.

Mas Ana, querida, você está certa e errada ao mesmo tempo. Cedo ou tarde precisamos sim confessar nossos sentimentos. E o hermetismo é uma faca de dois gumes, afinal há anos não acredito em verdades universais.


30 anos após sua morte, eu me compadeço das minhas feridas e das tuas, como um simples camponês servil que ritualiza o silêncio no peito na hora do rush dessa terrível cidade.

19.12.13

ABRA OS OLHOS, CORAÇÃO




look bobo, você de skinny-megera, eu fugindo do verão, o colar de alice em madrepérola, ele que me instiga uns horrores, me deixa de queixo caído, não volta atrás, ensaia desculpas, bate forte a porta do quarto, finge que vai embora, fica mais um pouco, me trai na noite, marca o dedo no peito, pede que eu seja alzira, a noite é sempre surda, cola o ouvido na madrugada, separa o dinheiro do táxi, pede outra cerveja, lança olhares tortos, coça o nariz, disca o número do dealer, esforça-se concomitantemente, foge pro banheiro, acende mais um cigarro, quer que eu o siga, estaciona as mãos nos bolsos, aqui jaz o perigo, escreve bilhetinho pro paquera, não quer mais, anota o telefone, pisca o olho, promete ser a salvação dos meus dias, me fala ao ouvido, dança 3 passos de samba, ensaia pausa dramática, comete deslizes, retarda o envelhecimento e afunda o meu bote salva-vidas.

12.12.13

DAS POSSIBILIDADES DA SOLIDÃO

A gente se identifica, então a gente ama. E tenho sido cúmplice dessa solidão moderna, doméstica, e que aos poucos, arranca pedaço e a gente nem percebe. Penso no livro, no mês de janeiro, no meu dente convalescente, nos antibióticos, no novo caderno onde escrevo meus poemas que são lindos, pois você e eu precisamos acreditar em alguma coisa. Além disso, tenho lido bastante, me encantado com Budapeste do Chico Buarque (apesar dos anos de atraso), Macau do Paulo Henriques Britto, e ao mesmo tempo feliz com as possibilidades reais e irreais da vida. Penso também numa viagem, mas o destino não tenho certeza.  Ouço muito Team e Tennis Court da Lorde. Às vezes eu me sinto um personagem fatídico de Raymond Radiguet, pois acredito muito nessa espécie de autoficção a toda prova. Então eu te pergunto, citando trecho de “O baile do conde d´Orgel”: “Os movimentos de um coração como o da condessa d´Orgel serão antiquados?”

8.12.13

SÁBADO, VIRGINIA, APARTAMENTO, ARTPOP, WONDER, CERVEJA, DANÇA, DUBLAGEM, TROÇU, VIDA










“And I detest all my sins”

Madonna – Girl Gone Wild

Eu acredito que o sábado seja a menina dos olhos de ouro da semana. Então eu me vejo no centro apocalíptico da cidade onde eu moro. As ruas abarrotadas de gente, calor, água mineral por 1 real, camelôs magia, congestionamento, e numa banca de jornal “Os artigos feministas de Virginia Woolf” que eu não comprei por não ter um puto no bolso e por não saber onde ficava o caixa 24h mais próximo. Na verdade, eu sou uma daquelas pessoas sem o mínimo senso de localização, o tipo de gente que se perde no próprio bairro, na própria rua, inclusive – e na vida.

Eu já havia planejado, após o trabalho, sessão de cinema all by myself no shopping. A pós-modernidade que oprime nunca foi tão babadeira. Aí como num estalar de dedos de algum anjo misericordioso, a BFF Maarji me envia um SMS para mais um encontro joy & satisfaction em seu apartamento: “Ei, vem pra cá! A gente pode ver uns filmes, nem precisa ter cerveja. Adoro quando tu vem. Vem!

Saí correndo e tomei um belo ônibus lotado de paixão. Nos encontramos no Extra Supermercado, onde saquei uma grana e fugi do quiosque de milshake horrível, mas que me rendeu uma bela foto sob o sol escaldante no sábado passado, cujo título foi: “Look verão depressão feat. MILKSHAKE DE MORANGO”.

Pela primeira vez na vida, havíamos combinado um encontro SEM CERVEJA (!), nos reuniríamos apenas para um bom papo ou algum filme cult (nas nossas mentes).

Segue então o diálogo quem-disse-o-quê próximo ao setor de bebidas, ou melhor, no setor de bebidas em si:

-- Vamos comprar pizza, coca-cola, batata ruffles, maçãs e...
-- E o quê?
-- Umas cervejas.
-- Cerveja?
-- Mas nós não íamos “não-beber”?
-- Já que você não quer, vou comprar umas pra mim, então.
-- Então tá, vamos levar umas 12?

Ok, o plano anti-etílico foi por água abaixo, afinal de contas as nossas vidas (e a sua também) pedem por algumas cervejas, acredite.

No apartamento, Maarji, que não é santa, me mostra a edição especial do ARTPOP da Gaga que vem com um dvd do show ao vivo no iTunes Festival 2013. Enlouquecemos e apertamos o play cantando “when I lay in bed I touch myself and think of you”.

Enquanto as cervejas gelavam, comentávamos o quão legal era a performance, as músicas, todo o imaginário ao redor do ARTPOP, o duelo das divas, o possível ódio da Madonna...

O melhor desses encontros sabáticos é que prezamos tanto a irrelevância das coisas que não nos importamos se é cool ou não curtir Lady Gaga. Somos todos little MONSTROS, anyway.

Após o show, substituímos o suposto filme francês pelo documentário “Meu amigo Cláudia” que retrata a trajetória da digníssima Cláudia Wonder: transexual, e ícone da cena gay de São Paulo nos anos 80. Assistir esse documentário foi uma espécie de celebração, pois Maarji recentemente finalizou um TCC sobre a Cláudia.

Quando nos demos conta não havia mais cerveja. Sem pensar 2x fomos novamente ao EXTRA comprar mais alguns fardos. No caminho, queríamos saber o endereço do famoso bar BOCA DE TROÇU. Perguntamos ao caixa, que não soube responder. Até hoje vivemos com essa dúvida.

“Eu falei: BO-CA DE TRO-ÇU”.

Mas a noite pareceu não ter fim, dançamos, cantamos, fizemos vários vídeos-dublagem, Maarji tirou a roupa e fomos felizes do nosso jeito. De quem é a culpa?

3.12.13

AVISO DO CORAÇÃO


dezembro. preciso muito me livrar do meu livro, pronto, terminado. dois anos de trabalho e reflexão, ambos semi-árduos. por isso colhi cada perspectiva íntima, cada barra, vislumbre, noites exageradas como combustível. só mais um tempinho e ele chega, pois eu já não me preocupo com os prazos da vida. em 2014 ele finalmente dará o ar da graça, e só falo isso porque tem quem pergunte, gente que cobra, acredita e se interessa. fiquei feliz porque o tadeu sarmento vai escrever o prefácio. ele leu e gostou, disse coisas muito bonitas. o livro em si é o meu registro consciente, intransferível. ficção animália versus coração em carne viva. quando estiver pronto eu aviso. prometo.

22.11.13

TIGRE SIBERIANO


adolescentes reproduzem meu fio condutor numa vasta cama de plumas & acessórios eróticos onde invisto minha língua sobre a previsão das mentiras para inventar um relato sobre sexo, ejaculações, coxas nuas que sobrepõem meus orifícios mediúnicos durante o coito & suas doses cavalares de memória em quartos escuros vistos sob o espaldar da cama que não range & que não prolifera nossas ardências na noite de frio, rumba, razão mimeografada presa à estante de brinquedos fabricados nos anos 90.

como se os meus olhos fossem o dorso de um cavalo prestes a mumificar a vida num galope sombrio, relincho tropical no alto da montanha ao invés de reconhecer o grito imaculado do homem que me domina sem o meu consentimento felino, pois quem enumerou os defeitos dos corpos teme o gesto de penetrar ou ser penetrado sem que os inimigos ou amantes sucumbam perante o último orgasmo travestido no sorriso de nossas gengivas, vaginas, líquidos empalidecidos enquanto o dia amanhece & tratamos de nos recompor: livre arbítrio que abre a boca antes que a presa se torne carcaça & eu psicografe o perigo do mundo.

15.11.13

OS BOYS QUE NÃO SABEM O QUE É O AMOR

“Por que não seriam alguns bichos criados para o sofrimento,
se na espécie humana a maioria dos indivíduos é voltada
à dor desde o momento de nascer?”

Buffon



Ou “por que os boys não me amam?”

Este, talvez, seja um manifesto-melodrama cujo intuito (nebuloso) é a expressão do EU maiúsculo e inevitável. Sem demora, mergulho de maiô e tudo na piscina onde o verão é uma espécie de anteprojeto; verdade que me enraba sem pudor, enfant terrible do coração gritando. Por isso não chorarei pitangas anymore. 

13.08
Sexo inflamável, como se ele fosse me partir em dois. Quisera justamente que eu me posicionasse num ângulo onde toda a minha essência fosse perpetuada ao extremo, como um imenso cu diante das galáxias. Três fodidas in a row, magia aos 21 - ele: príncipe angelical no limite do seu vigor. Capricorniano insensato, frio, dotado do que de melhor existe entre as pernas. Mas durante o vai e vem no longo deserto do desejo, imaginei a terrível discordância dos garotos e suas síndromes de Lolita. Fumei um cigarro enquanto ele se contentava com a própria beleza no espelho do meu guarda-roupa.

15.08
Fofo porém obtuso. O papo só deu o ar da graça quando falamos sobre Miley Cyrus. E eu me pergunto se um boy REALMENTE curte Miley Cyrus.

16.08
Eu me sinto uma bolacha de água e sal. Em crises assim, Gods da Anne Sexton é o meu consolo em formato nada anatômico. Mais uma vez sonhei que eu me entrelaçava nos braços de Pavel Novotny numa cabana em algum bosque da República Tcheca. Madonna completa hoje 55 anos. Pressinto uma noite de insônia babadeira.

20.08
Eu quero muito me concentrar no meu mundinho. Cair de boca num grande mastro, com ou sem você no meu pensamento. A ideia de Buffon de que não passamos de animais degenerados, de que o sol colidiu com alguma outra coisa e assim os planetas se formaram.

29.08
As pessoas trouxeram o inferno entre o in e o young da minha falta de paciência. Elas se transformaram em abutres, ou monstros, ou homens com um pau gigantesco que jamais na humanidade ousou me penetrar gostoso. By guessing, vejo você aos prantos. Telefono ad infinitum sem entender os porquês.

02.09
ódio que se resume em: esferas plásticas, pochetes, tom primaveril das blogueiras de moda, alpercatas, cabelo descolorido na magnificência do acaju, políticos homofóbicos, os cus que deveriam ou não deveriam ser laicos, a crosta terrestre, alunos delinquentes & possíveis serial killers, pena de morte, tom blasé de pessoas magras demais & gordas demais, publicitários que cheiram cocaína, lesbianas que nunca usaram rímel, a má educação do brasileiro, gente cool que não responde e-mail, gente que acha que “a cor dessa cidade sou eu”, solidão de domingo (mas é preciso), sumiço de personalidade, rivalidade entre amigas, forçação de barra, o boy mais lindo que namora uma gata mal caráter, o preço dos dildos, michês do mal, pais que abandonam filhos, oito e meio do fellini, colégio de freiras, visitas indesejadas, gente que maltrata os animais, autoafirmação, name dropping, machismo, crack, it girls & it boys, classe média defasada, violência da puta cidade, crise de idade, burcas, posers, pieguice amorosa, inimigos literários, politizados de ocasião, os maus resolvidos sexualmente, & assim segue-se uma lista infinita onde você, logo abaixo, pode escrever o nome de seu maior temor & dor:

13.11
I´m dancing like I am the only one na vida, no mundo, no amor e no coraçãozinho.

(As fotos que ilustram o post são da querida Adelaide Ivánova)

8.11.13

POEMA 23 CM


dramas mortais, verdades geniais
– não morro de desejo por você durante o dia,
nem me entupo de sorvete ao entardecer

vejo chuck norris erguendo uma espada,
o coração do boy que não tenho nas mãos,
aí sou uma mosca varejeira no cu dos deuses,

eles me prometem o tempo,
os 23 cm que eu mereço,
pavel novotny em meu pescoço
com seu enorme coração tcheco em riste

seria uma eterna maravilha,
o segredo das mulheres bronzeadas,
fantasia com y maiúsculo,
banana split derretendo na boca,

você e eu debruçados num jarro de hortênsias.

7.11.13

AUTOAJUDA DE QUINTA (FEIRA)

No vale de sombras das quartas ou quintas-feiras (sob os cactos ardentes do verão eterno) eu me reduzi ao “menos é mais” de mim mesmo ao som de Whitney e Mariah trancado na biblioteca. A sua verdade pessoal não tem preço. Maybe you have your reasons. Acredite quando não rola, acredite quando não é a hora. Não force a barra, force o amor que existe em você. O inferno são os outros e tudo o que você precisa está ao seu alcance. Ou como Anne Sexton disse: “Hurry Up! Please, it´s time!” Livre-se das bonecas possuídas, livre-se da síndrome de Lolita. Liberte-se do mau funcionamento de um coração desnecessário, fuja para as montanhas, não se renda à ironia. Faça igual ao Roberto Piva: “abra os olhos e diga ah!”. O resto é performance. Live or die, but don´t poison everything é o melhor look do dia que já existiu nesse puto planeta.

2.11.13

RAZÃO E UM PINGO DE SENSIBILIDADE

oh, a terrível comédia humana dos dias. então vou dizer adeus aos exageros e às fantasias pela 96ª vez – pois hoje, afogado na piscina da ressaca, eu me recolho no quarto, fumo descontroladamente, releio “o morro dos ventos uivantes”,  me debruço em links pornográficos, penso no boy que deveria ter gozado na minha cara, me recuso a tomar banho por preguiça, não finalizo meu livro por algum motivo de merda que os deuses desconhecem, telefono e pessoa x desliga o celular, deixo as roupas no chão, ouço calado o drama momentâneo das pessoas, desenrolo um cédula de 5 reais, morro de terror e tédio às segundas-feiras, forço a barra de vez em quando, e adélia prado estava certíssima quando ela disse que “sem o corpo a alma de um homem não goza”.

25.10.13

BOYFRIEND


carinho,
me resgatou do buraco, das barras, das putas mágoas de bêbado apaixonado – sou um bruxo antes dos trinta & não te absolvo por me abandonar antes do segundo beijo, como se eu fosse uma cadela esfomeada, doida por pau, segredo & literatura.
penso nos trópicos, na meia dúzia de bananas: um pingo de sensibilidade longe da tua zona de conforto  –  olhar de pantera mascarado por fluxos de escuridão, quando dei adeus às sleeping pills & enchi a cara numa compensação difícil.
nem porra, nem puta – você criou asas enquanto eu despencava do meu próprio andar de um metro & oitenta, então resolvi escrever um livro sobre a pós-modernidade que oprime, deprime & que não manda flores no dia seguinte.
amei você quando não havia sol ou pudor.
espinhos, cristais escondidos, falésias: coração comparado às andorinhas da paixão universal.
mantive os diários sob o poder das gavetas. mutilação das linhas de expressão quando sonhei com o ator pornô húngaro a me livrar da frigidez numa cama chinfrim de motel  pago com o limite do meu cartão de crédito.
escolhemos a suíte pole dance com hidro & demarquei cada centímetro com a língua, olhos, nádegas em profusão – depois fui embora com um sorriso de viúva alegre estampado nas fuças.
o lado b do amor tão obscuro, vendendo meu próprio peixe para que você me ame, ou na pior das hipóteses, desmembrar as vértebras do meu prazer em ambientes dominados por cães na sarjeta & dignidade na estratosfera.
mas pago o preço, encaro as duas faces da moeda & planejo cada passo na alcova.
os quadriláteros do abandono estão aqui representados, dançamos ao som do jazz diante dos canteiros centrais & das vias expressas não plastificadas.
resta-me rasgar as tuas pernas, queixo, memória & afeto aos frangalhos: tiro de espingarda no coração. aí o clima esquenta & sou obrigado a me desfazer das histórias onde interpretei megeras, datilógrafas ninfomaníacas, divas abandonadas.
me livro do luxo, da intelectualidade & do frio.
telefono para dr. salomão que me atende entorpecido de recusa. ele diz que já fomos longe demais no tratamento, não há cura possível. ele então prescreve doses cavalares de um medicamento cujo rótulo exibe fogo ao redor da boca, boca ao redor do fogo. tomo dois comprimidos sem pestanejar.
dr. salomão sorri, glamouroso – segurando a bengala importada do egito.
como pagamento, ele me estapeia a bunda.
& pairo num terceiro andar de um corredor às quatro & trinta & sete no calor insustentável do brasil.
(você precisa abrir os olhos).
mas você me observa reticente & o combustível do momento é o pensamento claustrofóbico & oscilante naquele quarto úmido de motel.

pole dance com hidro, lembra?

as fomes que não se descosturam.
busco fôlego para materializar o livro.
arbustos, jarros, sombra & coração impecável para as consequências.
você que me culpa & que não me explora os olhos, os ossos do ofício, os gatos abandonados, o gato por lebre.
tudo em vão como um lábio superior desenhado sem esmero na pintura.
& diante do ex-amante proponho um batuque, um samba, uma pausa na coreografia. tomo mais um gole do perigo que eu mesmo interpretei.
da janela, fotografo as luzes esparsas do centro da cidade.
projeto: obsessão, terror & glória.
25 de fevereiro de um ano qualquer:
a vida é um fist fucking cravejado de diamantes pontiagudos.

*Texto originalmente publicado na edição 4 da Revista Geni

19.10.13

A HISTÓRIA DO CU

Texto revolta manifestação íngreme. Mil mortes no decorrer do tempo. O cu que prolifera, insiste, reclama de teimosia. Você é um monstro, ou libélula depois do dilúvio. Morre sempre ao entardecer, não pede desculpas. Cheque milionário em barras de ouro. O cu é o poder. O cu não é o poder. A contemporaneidade do cu, gata. Uma armadilha que você mete o dedo e imagina um pau imenso. Autoexposição que não importa, pois ninguém aqui é mestre, entidade, rainha de bateria, princesa luxuosa, puta de esquina, trapezista cega. Morro de vergonha de nós, inclusive. Intelectualidade de sofá, bom mocismo de sofá, heterossexualidade de sofá, beleza de sofá, relevância de sofá. O sofá que suporta o teu coração-cu do mundo. Todos somos seres bizarros e você tem o cu maior da estratosfera. O meu cu é o x da questão, não tenho medo, pasmo de horror, profundidade rasa, pele de pêssego, coito anal, linha reta retardatária, o reto. Lembra então daquele boy fantasiado de pantera? Lembra então do beijinho doce no espelho enquanto você desmascarava o cu como naquele filme do cineasta famoso que não sei ao certo porque sou burro? Eles só falam e piscam os olhos por motivos relacionados aos paus, aos pelos, aos cus, aos músculos, ao que não condena, ao que apenas cola. No entanto o cu é um beijo, uma forma de dissociação. A recusa do meu cu e suas pregas. Todas as pregas da humanidade. I´m not ashamed to say it out loud. As minhas contas continuam aqui, vencimento do cartão de crédito dia 5, vencimento da conta de telefone dia 2. Preciso urgentemente fazer um retiro íntimo, confessei ao amigo drogado e artista, pessoa agradabilíssima, sincera, magra e desmedida. Você nunca imaginou um orgasmo aos olhos de um cão. O cu de um cão é o terceiro olho que você deveria manter longe apenas das aparências. Porém todos os cus morrem, sofrem de solidão, caem entre quatro paredes, se escondem nas esquinas das ruas, na viela das cidades estranhas. O cu é também a sensação cósmica do ser. O cu é uma sensação cósmica, é prova de afeto e aceitação sem sobrancelhas franzidas. Ontem, por exemplo, tive um momento epifânico enquanto eu imaginava o cu da humanidade. Eu e a existência. Eu e o cu da existência. O cu é ousadia. É viajar para a América Central num ônibus caindo aos pedaços. Todos nós caímos aos pedaços, uns percebem, uns são descontentes e provocam aquela torta de climão. Torta de climão sabor cu. Sobremesa na imensidão que condena condena condena. Morde e arranca o pedaço arranca o pedaço arranca o pedaço, pois as leis gramaticais não têm cu; elas são peixes num aquário raso. Você é um peixe raso e todos os teus poros são cus em potencial. O cu que tudo pressente como num suspense italiano. Mas eu não me envergonho e eu apenas me deixo ser, sem qualquer explicação sobre os motivos que me levaram a tentar entender o cu em plena tarde de sábado onde eu deveria estar num churrasco, tomando cerveja, fingindo paz e amor e com um ódio mortal em formato de cu tatuado na testa. Não me envergonho, pois o meu cu também é rota de diamantes, paisagens e hemisférios. 

13.10.13

ALÔ, HOFFMAN?


sons de carros bufando seus gases, rumores tóxicos, notas musicais da regra animália enquanto indivíduos; & nós, os fracos, sim – transpiramos a tal vontadezinha de esplendor que nos alimenta enquanto ensaiamos um ai em prazer omisso, sempre omisso.
deixo você me morder por inteiro durante o meu breakfast da boa conduta. decoro meus lábios & cílios num tango argentino de mero desesperado – as tuas cartas de amor se extraviam  & desaprendi as regras do ofício como quem se contenta com material pornográfico.
acelero os passos, encurto os corredores, lavo a louça quando é preciso & dou o meu melhor no momento “vamos guardar o arroz na geladeira”. é que ainda sinto uma tensão de fios elétricos quando ele me abandona & descobre novos ares, como se o meu grito, enfim, o organizasse perfeitamente na vida.
sucumbo pela falta de dinheiro & ascensão.
ele, o trágico amor descalço, é um filho insensato que não respeita conselhos de mãe, madrasta, meretriz. & ainda me perguntam sobre as foices do destino. as foices do destino descosturando flores enquanto caio de quatro na calçada.
katherine surgiu com olhos de lebre & desmarcou nosso encontro, pois quis favorecer outras conquistas. roí as unhas até o sabugo numa espécie de ânsia que empalidece as aventuras de uma puta fantasiada de lady. acabei forçando a barra & não permitindo que eles – oh doces inimigos – virassem de costas, amáveis diante do tal palco imaginário, pois sou um trabalhador braçal inserido na multidão de artistas & publicitários de merda.

hoffman telefonou & marcamos jantar. em duas horas estaríamos cara a cara & inundados num silêncio de cão. banquei o herói & fingi inúmeros descontroles emocionais que ele tanto gosta. ele não sabe que os solavancos da vida nos enchem de uma esperança mumificada. a minha liberdade é para ele mera obsessão pelo zodíaco & afins. não puxo assunto enquanto me entupo de um peixe à delícia meia boca. a noite se desfaz sem sucessos & me contento com mais uma cerveja geladíssima.

24.9.13

HOT AMATEUR GUY


não é uma verdade universal imaginar que a última coisa que eu quis antes de me render ao verão foi:

a) imaginar você moreno, negro, africano, bibelô de ouro numa sunga branca molhada;

b) sentar no teu colo lendo bonequinha de luxo & recitando de memória alguma passagem do livro (para que você me explique com carinho o significado dos fatos);

c) cruzar o pacífico, as ilhas maurício, a costa do marfim & esquecer por completo o coração antigamente anulado na estrada;

d) você & eu emaranhados na areia, num jogo de nós entre duas aranhas completamente desestruturadas;

e) segurar o bronze, manter o tom altivo, speak our minds, mergulhar na piscina;

f) controlar a ereção como se fossemos responsáveis pelo bem geral da nação;

g) a sensação cósmica do ser & o futuro.

12.9.13

AMOR É INDEPENDÊNCIA



Dias atrás, ou mais precisamente numa terça-feira fatídica, me deparei com a edição de novembro de 2012 da revista Filosofia, onde Carlos Eduardo Doné escreveu um artigo cujo título “Amor e relacionamento versus felicidade” serviu como uma espécie de mão na roda/mantra em relação aos meus dias trôpegos e subservientes. Ou melhor, se refere à nossa conduta que generaliza a solidão como algo negativo, sem ao menos contextualizar as diferenças biológicas, fisiológicas, culturais e existenciais que nos caracterizam.

Doné estava certíssimo ao afirmar que não há um meio-termo entre um relacionamento ortodoxo e o hedonista proveniente da solteirice que, até hoje, infelizmente, carrega um fardo nas costas – pois estar solteiro não é visto como uma possibilidade, e sim como uma espécie de transição até você encontrar a sua cara-metade, isto é, a felicidade, e, sendo ainda mais preciso: o amor da sua vida.

Desde o século XIX com o surgimento do romantismo – e sem entrar no mérito da influência cristã – ainda somos marcados por ideais utópicos no que diz respeito às paixões e aos desejos de escapismo subjulgados ao que a sociedade impõe. O solteiro, por não ser socialmente aceito se comparado à leva de casais tipicamente felizes (ou mais próximos de um bem-estar amoroso/pessoal) busca um parceiro para se relacionar, mesmo que isso não o faça suficientemente completo.

Não é uma questão de inteligência ter a certeza de que o ser humano é um ser sozinho, e essa ideia de autossuficiência é deixada de lado quando desviamos a atenção de nós mesmos e plantamos inúmeras expectativas em relação ao outro.

A nossa opinião acaba por nunca ser genuinamente nossa. Se nos consideramos bonitos, inteligentes, sensuais, sensíveis, atraentes, é concomitantemente relacionado ao que a sociedade pensa sobre nós. Isso também é desencadeado pelos inúmeros fenômenos comportamentais que ditam uma tendência, pois, quem segue o rumo contrário, cedo ou tarde encontrará “o caminho”. Mas esse caminho, antes de tudo, é pessoal e intransferível.

É óbvio que um relacionamento amoroso que se encaixa na sua realização pessoal é algo de extrema importância para nós, pobres mortais, pois não somos máquinas programadas. E você inclusive deve imaginar que, por ter escrito isso, eu seja uma pessoa mal amada e nitidamente neurótica. Mas não, o que eu não quero é ser rato de laboratório de qualquer imposição criada pela religião, sociedade, cinema, literatura e os livros que autoajuda que se proliferam ditando “como você deve ser você”.

Acredito muito na visão de que eu tenho o direito de ser eu mesmo, pois não existe uma regra de conduta sobre quem é mais ou menos feliz. Eu sou único, você é único. Se o seu grande objetivo é um príncipe num cavalo branco, vá em frente e lute por isso, quem somos nós para julgar? Lembrem-se que nem Jesus Luz conseguiu agradar a Madonna...

Esse amor romântico de invenção cristã, segundo Schopenhauer, vai de acordo ao que André Comte Sponville também disse: “que mesmo o amor a dois deve ser solitário”. Tudo se baseia no senso de respeito e educação. Verdades universais são grandes farsas, e, mesmo que a sua farsa seja genuína, fortaleça-a o quanto possível.

Então encerro o meu discurso de solidão exacerbada (mas muito bem, obrigado) com a seguinte pergunta: você acredita que no man is an island?

O que sempre resta somos nós & o inferno são os outros.