27.8.13

AOS 30 COM AMOR

O tempo continua sendo uma ilusão. Reencontrar a vida, analisá-la com outros olhos, não é dica aprendida em livro de autoajuda, é conspiração a favor de si mesmo. Eu me tranco no quarto, penso nos dias, no cansaço, na rotina, nos amigos, nas esperanças, nas neuroses e tudo ainda soa muito importante. Eu ainda tenho forças. Eu ainda sou parte do mundo. Não quero, nem preciso me perder antes do tempo. Acendo um cigarro e acredito que eu preciso ser eu. Dessa vez não há dúvida, rancor, frustração de desocupado. Aos 30, o coração é a melhor fortaleza, já não me destruo sem demora, ando por aí de boa, uso jeans, interpreto de vez em quando um papel, volto pra casa repleto de mim mesmo, curo a ressaca, leio um livro, escrevo, tenho sonhos. Pela primeira vez no mundo, abro os braços e percebo o que é incrível. Todas as mortes corriqueiras se transformam num ponto onde ninguém, além de mim, traça um futuro. Mas a verdade que prevalece é que hell is other people.

10.8.13

STUDIO BABY


aí eu não quis envelhecer mais alguns anos,
nem contemplar a mesma fuga (válvula de escape),
pequena dose de amor que você deixou secar ao sol por culpa de algum erro, noitada, drogas, lance obscuro, carinha de anjo suspenso,
é que você trancou as portas e eu me cansei do mundinho
como no filme em que a balzaquiana quis desistir de tudo enquanto lavava os pratos, molhava as plantas, caía adormecida no sofá,
faltaram plumas, mistérios,
organização das roupas íntimas, ressaca ao entardecer, relações cortadas,
o vento numa desarmonia que desajustou a cabeça, os cachos,
o filme noir,
whitman whitman whitman que me deixa mais louco na transversal,
o ódio platônico,
o jeans que tem caída melhor nele do que em mim,
grana guardada no bolso, a reação íntima, intimidade procrastinada,
sexo entre cavalos do mesmo naipe e eu ainda preciso muito que você seja
uma pessoa sozinha,
relevante no mundo,
deixando alguma história após a morte,
caindo de quatro enquanto é tempo, forçando a barra,
pois a gente nunca consegue se libertar de uma determinada pessoa,
a pessoa em questão,
você sabe o nome e pensa e vive quase eternamente,
pois o mundo é nosso pequeno segredo filho da puta,
sexo monocromático que não teve estampas,
apenas lantejoulas.

Imagem: Lorella Peleni

2.8.13

DOC TXT MODERNO

simplesmente o caos ad eternum. expressão latina do homem latin lover que ainda não te ama, pois no meu quarto eu brinco de amarelinha com os deuses. imagino então cindy, que mora além-mar e que seria tão interessante se compartilhássemos uma bebedeira de vez em quando. escrevi um e-mail do coração sobre a cidade, a fumaça, e as más companhias. ela concordou, disse que se sente subestimada e que enfrenta problemas com a noite e com os fantasmas uó das pessoas: auto-referências, crises de ego, estrelismos, etc. cansaço de quem vê a decadência alheia e que se recusa a ser plateia de tal showzinho freak dos fracos, oh lord. eu me pergunto: eles dormem tranquilos ao encostar a cabeça ao travesseiro? fato: sabemos a resposta – inclusive você.


a existência é tão frustrante, tão mesquinha, o despertador da vida clama, o trabalho te espera, as luzes do trânsito, as personas certas, as erradas, as noites de zé ninguém, as estrelas no céu, você sozinho e vazio no apartamento também vazio, dias e tardes e noites que engolem o teu buraco negro. esqueça tudo, seja egoísta, banque sua própria diva em potencial, seja piedoso com os animais, não force a barra, nem faça a íntima – as pessoas percebem e isso não é cool.


em 1992 eu queria existir com a cabeça de hoje e dançar deeper and deeper até que os calos me dominassem os pés. “a teus pés” da ana cristina cesar sempre me acompanha na bolsa, é uma espécie de amuleto contra as superbarras do inferno cotidiano. o sexo, as entranhas, você encolhido na loucura. a moda que é se fazer de doida. nossos peixes no aquário sujo. “salão chinês” que aos poucos precisa dar o ar da graça. contudo, você não deveria engordar sua raiva contra quem ao redor não te acha incrível. mais uma vez e repito: tudo está completamente desprotegido. os olhos ainda são telhas de vidro. mas hoje, pela primeira vez, tomei um comprimido de diazepam. sente só o feeling.