26.12.14

EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ MUITO CANSADO DE TEMAS EXISTENCIALISTAS


Estudei o cosmos por dentro de você e ainda não sei o nome, não sei quem sou, ou se no sábado à meia-noite haverá lobisomem trocando a pele. Vou sempre embora no momento em que você chega, fecha as portas, não me encara propriamente. Você é o único objeto que me desestimula as mãos num abraço. Perco a ginga e só quero sair pra fumar. Este acordo não se fortalece. Escrevi parte de um livro sobre você, mas agora outra história toma forma. Já não boto mais fé na tua sacanagem, pois os meus pensamentos são partes de um dadaísmo desconstruído pela impressão normativa alheia; afinal sempre achamos que estamos certos. Ilusão cheia de decoro, meu parágrafo que não ativa o fogo. Preciso ser mais sério antes que o esforço desafie a noite. Eternamente, eu sou isso: uma luz de abajur sobre a cama, quase qualquer frase de efeito num muro por aí. Este ensaio peca por si só numa curva estreita onde manobrista algum tem vez. Eu sei que você está muito cansado de temas existencialistas.

Imagem: Coelho, de Sofia Borges

22.12.14

CLEYDE



- Escuta aqui, garoto: e a minha liberdade?

Das noitadas ao deus-dará (enquanto fugimos de nós mesmos) eu me tranco no teu carro feito louca alucinada e criança, morrendo de medo da Cleyde que vira e mexe passa com suas luzes vermelhas entre uma esquina e outra onde você para - enquanto desço do carro e mijo em qualquer poste.

A noite é escrava e profunda, não a compreendemos muito bem, por isso rodamos em zigue-zague procurando jovencitos no centro da cidade (o que me faz lembrar com carinho de Alejandra e seu "Los Trabajos y Las Noches"). Mas tudo o que eu quero é bater uma boa porta, me desfazer na loucura, e que você me fotografe com um efeito maravilhoso do Instagram.

Susana estava certíssima, pois "quem se aproximar de mim pra ruindade, VAI QUEBRAR A CARA".

Ainda sim zombamos das mocreias, das pretensas caricatas, das cinturas-de-ovo, e juntamos nossa graninha e força para mais um round entre vida, escuridão e gargalhadas ad infinitum.

Então eu me pergunto: até quando a Cleyde irá nos rondar? (tipo Telma & Louise, ambas defasadas).

Né? 

É.