28.2.13

o sol


já existe amor às sombras quanto antigamente
a era do gelo em que nos banhávamos desnudos
eu numa simplicidade de filho único no espaldar das coisas
aquela esperança que se desvencilhava das árvores
do quartinho trancado no decorrer de nossos sonhos
assim como quem se despede com um lenço sujo nas mãos
eu aos 3 anos num desequilíbrio de boneca
cambaleando aos montes sem entender o lado negro da vida
o brinquedinho da vida
a correria destemida entre corredores onde me assombrei
onde perdi perdão com joelhos mínimos fracos brancos
as ruas ensolaradas numa alquimia sem espécie.

você também não se prende ao meu pescoço inutilmente
vou chorar até borrar a maquiagem
eu vou me livrar desse perigo
decido por muito tempo me esquivar
saltitante nos meus olhos de flor amestrada
o meu castigo independente da hora do rush
brincar de pular de galho em galho
galho resfolegante no interior da casa
no interior da palavra mentirosa que personifiquei
o falso jogo das meninas do baseball que nos perseguem
mas que por algum motivo só mostram as saias
nunca o espírito.

24.2.13

delay


um poema escrito ao domingo quando o coração
por desventura não bate mais forte & você bebe
água para curar a ressaca do corpo & da mente
nos precipícios da cama
& mrs. dalloway que te espera na cabeceira
bem recatada tão recatada extremamente inglesa
mas ao mesmo tempo tenho a certezinha
meus problemas psicológicos são sérios & não
preciso  tomar sorvete fingir que vai passar

tudo no mundo se transformou numa vã glória
& eu colo retratos na parede
espero o melhor de nós enquanto as estrelas brilham
escrevo um texto digno de desequilíbrio
pois ontem me percebi disfuncional sem predileção
profusão do corpo deslocado
mente perseguida por serpentes de duas cabeças
loucura de tudo quanto é veneno que gera efeito
por mais de dez anos

& não quero piscar o olho em cumplicidade
com você por aí a estampar o rosto num muro de plantas
eu me concentro dividindo os membros num taxi
na madrugada que deus um dia soube renegar
muito antes de pronunciar meu nome
& criar uma nota de vinte dólares.

18.2.13

nunca te vi de boa

mudando um pouco o feeling dramático do blog, resolvi que:

em plena segunda, quando o mundo não deixa de ser mundo, só há uma perspectiva: se deixar inspirar – pela vida ou pelas barras da vida ou pelos amores que não deram certo (na pior das hipóteses). é preciso saber compensar o que você tem com o que você não tem. o tempo é curto, de repente os anos passam e a gente só percebe o erro tarde demais – e tudo se transforma numa superbarra.

aproveitando a vibe chuvinha e tempo cinzento, resolvi criar um mini-mural na parede do meu quarto. eis o resultado:


mas além de ser super feliz às segundas, não resisti e me fotografei numa vibe self-marketing do absurdo. reparem que mesmo contentinho, há uma atmosfera sombria no olhar, tipo the dark side of the moon:


e por falar em self-marketing do absurdo:

meu texto "amante babaca" saiu no Don´t Touch My Moleskine mês passado. (link)

outro texto, "lágrima de osso" saiu no fofíssimo blog Emilie Escreve. (link)

e pra finalizar, mais tarde tem drink, tem loucura, tem obsessão. e como tadeu sarmento deu a dica, meu livro de contos deveria se chamar "planejando vinganças no sofá vermelho".

afinal vin-gan-ça é a síndrome dos espíritos desajustados.

12.2.13

o meu carnaval é assim



no dia em que o papa desistiu da papa de cremogema, eu tive um dia particularmente horrível no sentido pessoal da coisa. na verdade, o meu carnaval é assim: querendo que você vá pro inferno. quase fui às lágrimas por cada constatação estranha, cada visualização de foto absurda e injusta no facebook e instagram da vida. o lance merda babadeira sem tamanho, pois cansei, queridos leitores, do mimimi ao extremo, que eu, sofrendo pencas de bicudas de nervous breakdown, sou obrigado a passar (muitas vezes por escolha própria).
ay que horror!
cheguei em casa emputecido e fui rever “o sétimo selo” do bergman. depois li 2 contos do fabulosíssimo joão do rio. os contos são “o bebê de tarlatana rosa” e “o homem da cabeça de papelão”. fui então aos poemas da ana cristina cesar que amo desesperadamente, mas não pude continuar quando soube, pela milésima vez que, “é sempre mais difícil ancorar no navio no espaço” – o tipo de recuperação da adolescência que só ela, tão única, soube lançar aos quatro ventos através de sua obra.
em seguida me tranquei no quarto, organizei meus papeis, tentei escrever um poema para um suposto livro de poemas. mas desisti, estava derrotado como só eu sei, como só eu percebo – fudido no sentido figurado da coisa, ao invés do sentido literal (pois teria sido uma delícia).
mas comigo é assim, a ressaca moral começa antes da farra, no dia seguinte só percebo a constatação da merda em que eu, você, todos nós nos encontramos. tudo está completamente desprotegido. enquanto eu me canso e choro, você, filho da puta, adquire uma doença sexualmente transmissível por aí.
e não adianta, ou melhor, super adianta saber que enquanto todos dançam, trepam e gozam, eu estou aqui, refletindo sobre a minha puta vida.
perdi a chance de vestir nesse carnaval minha linda camisa boca de se fuder, por escolha própria. perdi a chance de fingir nesse carnaval que tudo está lindo e maravilhoso e que essa cidade é a melhor cidade do mundo, por escolha própria. perdi a chance, nesse carnaval, de beber por tabela e exagerar nos barbitúricos, por escolha própria.
chacal escreveu assim, e isso me define: “vai ter uma festa/ que eu vou dançar/ até o sapato pedir pra parar. aí eu paro/tiro o sapato/ e danço o resto da vida”. lindo, né?
pois é isso, depois desse carnaval, vou dançar pelo resto da vida.