22.2.12

quem não sambou há de sambar em algum momento da vida


o carnaval teve seu fim, e eles dizem que 2012 já pode começar. quem não sambou, há de sambar em algum momento da vida, talvez em maio, julho, setembro. o coração bate frenético enquanto vou me organizando em listas, planos, obsessões, conclusões na encruzilhada. resolvi misturar numa única resolução de vida, as alegrias dos dias comuns e as pequenas dores que se fortalecem e são consideradas lições do professor misericórdia. eu gostaria de ter você ao meu lado, mas enquanto o tempo é mãe e madrasta, continuo cumprindo horários, morrendo de raiva do trânsito,  desabafando com os amigos, bebendo cerveja, encarando as fuças no espelho. mas ao acordar, é como se o meu peito explodisse de êxtase, infâmia, reflexão em rota de fuga. então percebi que o clima esquentou e é hora de escrever um livro: liberdade que não há de me prender as asas. em maio, uma viagem, novos ares, uma nova cor do frio. depois, um sorriso de dever cumprido, ou uma gargalhada de retaliação ao processo, na pior das hipóteses.

11.2.12

o direito de ser eu mesmo



começo assim: resolvo abraçar as minhas próprias verdades. e esquecer a massificação do tempo, das opiniões, das regras. há meses eu havia encontrado uma tática de sobrevivência no seguinte pensamento: “é preciso compensar o que se tem com o que se não tem”. fácil? não sei. por via das dúvidas aquele outro ditado antológico: “o que é do homem o bicho não come” também vem a calhar.

o engraçado é que perdemos tanto tempo com as insatisfações. a falta de tempo, o amor que não veio, o dinheiro que é curto, a viagem dos sonhos que precisa ser adiada, as relações de amizade que exigem, a crítica alheia, o aumento de peso, as frustrações quanto ao passado, presente, futuro etc.

num papo com uma amiga, ela veio com a seguinte frase de efeito: “você não tem culpa da insensibilidade alheia”. verdade. as pessoas nem sempre enxergam – ou querem enxergar – o que está ali, diante de suas fuças. e em outra conversa de bar (com outra amiga) chegamos a conclusão de que os neuróticos não somos nós, e sim os outros. filosofia do hell is other people.

então eu não quero viver na base do que poderia ter acontecido se eu fosse, fizesse, tivesse, quisesse, pudesse. a vida é hoje, aqui. morre-se por tão pouco, perdemos as estribeiras por bobagens, guardamos rancor aos montes, muitas vezes por pessoas que não valem uma merda de gato. o tempo passa numa velocidade nem sempre justa, e tudo é uma questão de atitude, coragem, equilíbrio.

não se assustem, as manhãs de sábado me deixam assim, inspirado na auto-ajuda como quem precisa compartilhar o pão, mesmo que com a ajuda de artifícios de “quinta”. mas não me importa se eu sou uma pessoa de quinta ou se o que eu digo não é lá uma grande novidade. eu não quero me importar se a minha cidade é problemática, ou se as pessoas perdem tempo com frivolidades, ou se sento numa mesa de bar e sou abordado por gente inconveniente.

não quero me deixar perder pelos pés na bunda, ou se fulano é popular enquanto sou um freak lutando por “reconhecimento”, ou se não sou tão bonito quanto eu gostaria, ou se a minha família não é perfeita, ou se não sou rico, ou se não sou sexy, ou se trabalho demais, ou se a minha roupa não é da moda e não condiz com o meu corpo, ou se a minha integridade artística me levará a algum lugar, ou se as minhas convicções sexuais me garantem dormir com o travesseiro num sábado à noite enquanto gente bonita, elegante e sincera está aí, sorrindo, cantando, dançando, ou se... ou se...

dane-se o “ou se” da vida, todos nós somos nossa própria obra de arte, e só a gente sabe quando os calos incomodam e é preciso mudar de tática.

eu sou eu, você é você, eles são lindos, sim, eles são lindos, e o que é meu ninguém tira.

um beijo, vou viver.

2.2.12

mão aos céus & a possível resolução das profecias


sweetheart,

finalmente o frio por estes lados tão trôpegos. de repente aquele vento noturno, vento que assanha a cabeleira e desarruma os papéis. do quarto, observo a displicência da noite, de costas. do corredor, me aproximo do que chamam de banheiro social, quarto de visitas. pepê é a beleza em olhos de gato, mas quando menos espero, penso nas ruas de long island e no suposto presente do caribe prometido pela mulher chique do hotel. sensação remota e transfigurada é saber que nas tardes de fevereiro o segredo do mundo está guardado em nós, ordinários filhos da puta. as lâmpadas do teto que iluminam nossos horrores, carcaças, beijos apodrecidos, xoxotas, crimes transcendentais - e dane-se quem proferir o primeiro insulto. amanheci relutante e tenebroso, mas com o sorriso apropriado às merdas.