23.5.13

o segredo dos homens que não nos amam


bliss na cabeceira enquanto katherine mansfield se finge de morta. assim observo o mundo, eu e meus olhos de pavão. o que me faz crer que todos os dias são terrivelmente estranhos e todas as pessoas do mundo estão um pouco mortas. então me pergunto qual o segredo dos homens que não nos amam. o segredo dos homens que não nos fodem.

aí uma amiga (também neurótica e absurda) disse que quando você desiste de tudo é que tudo acontece. aí o corporativismo da vida é uma faca de dois gumes: preciso muito que você me convide novamente pro cinema e segure minha mão na hora exata.

por exemplo, eu fico passado quando algumas pessoas (porque são sempre algumas) levam essa cidade à sério demais. eu me pergunto se essa gente não luta contra as barras e superbarras da existência; se essa galera não entende a realidade animalesca na qual você e eu se encaixam (e se complementam).

nós e nossa puta vidinha. e a falta de louça e roupa suja pra lavar.

então você afirma categoricamente que eu não transo o quanto deveria (lógico) – o que é a mais pura verdade; pois pessoas sexualmente ativas são tranquilas e de boa, não é mesmo? mas o lance da coisa é se transar, entendeu? afinal, situações desesperadoras exigem medidas desesperadoras.

esse é o meu desespero: cansado de tanto sol e chuva e dos transtornos de personalidade borderline de plantão.

é neguinho forjando relevância quando o mundo não está legal, quando tudo (mais uma vez e repito) está completamente desprotegido.

por isso sigo forçando a barra e fazendo desse blogspot o meu poço de obsessão, terror e glória. uma mera desculpa para a ausência de orgasmos.

Imagem: Erik Thorsandberg

11.5.13

golfinhos


queria muito escrever um relatório banal (interessante) ou chorar trágicas pitangas após um dia jururu. é incrível, mas as pitangas estão lindas e viçosas; e jururu é o mundo, não eu (sob a perspectiva de virginiano neurótico). a verdade é que a frivolidade das coisas não mais me espanta ou inspira. maravilha, não é mesmo? eu gostaria muito, querido leitor do coração, de narrar (por toda uma eternidade que não caberia na falta do que fazer da internet) todas as nuances da minha vidinha medíocre e da sua também. não me tornei um monstro, nem engolidor de facas, muito menos uma boneca possuída. assumir o que chamam de verdade interior não é coisa de fã de clarice lispector, é simplesmente uma arte, uma afronta ao universo que te engole e cospe o caroço fora. e hoje não posso me render aos drinks. nem ao amor preso às circunstâncias, pois aquele boy montado no cavalo branco partiu sem sequer anotar o número do meu telefone. juro que não derramei lágrimas de sangue. mas o eu trágico cumpriu uma tarde inteira de esperanças positivas. tudo deu errado na hora certa e a minha pele continua a mesma, sem nenhum arranhão. acordei, inclusive, com um pingo de sensibilidade de quem declarou (bêbado) amor ao planeta na noite passada. uma espécie de glamour caótico dos novos tempos, como se eu abortasse uma superbarra tragicômica muito antes dela existir. mas vocês fazem tudo errado: dilaceram questões, transformam autoafirmação em obesidade mórbida, não sustentam a paquera, não racham a conta do bar, insistem no look do dia. nunca tudo esteve tão irrelevante na classe média-whatever de nossos anseios. por sorte, mia farrow esteve aqui e revelou barbaridades sobre o inferno que você também vive.

4.5.13

sobre ser escritor


Numa sexta-feira da vida eu estava com a querida Lola Aronovich (professora-inspiração, cabeça pensante, feminista e autora do blog Escreva Lola Escreva) em sala de aula, pois estávamos prestes a nos aprofundar no conto Theft de Katherine Ann Porter. Mas antes que a aula começasse, Lola, do nada, pediu que eu falasse sobre mim. Apesar da surpresa, esbocei algumas frases soltas a respeito do pseudônimo LaCarne, sobre o meu blog, e que além disso eu sou uma pessoa que escreve. Então ela perguntou sobre quais temas eu abordava. Ainda envergonhado falei que costumo escrever sobre a noite, os amores, os ex-amores, os pés na bunda, os boys, sobre a cidade – tudo voltado num tom poético-catastrófico da vida. A timidez foi tão grande que nem citei que já tive livro lançado e participação de coletânea. Aí me veio na cabeça a grande questão do que é ser considerado escritor, pois no Brasil as pessoas não levam isso a sério. A ignorância pode ser tão constrangedora que em determinadas situações há quem ria da sua cara, afinal, segundo eles, escritor tem que ganhar dinheiro e viver disso – caso contrário, você é mais um ser pedante ou a pessoa mais irrelevante do mundo.

A questão é, quem escreve (independente dos meios ou plataformas onde seu trabalho é publicado) é sim um escritor. É bem verdade que são poucos os que sobrevivem da produção literária no Brasil – enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, um autor de bestseller fatura uma baita grana e garante seu pezinho de meia.  Aqui as pessoas não leem, o ensino público é defasado, e a gente vive numa realidade problemática onde questões de vida e morte precisam ser resolvidas. Caio Fernando Abreu disse numa entrevista que as pessoas no Brasil não precisam de literatura, e sim de arroz e feijão. Isso também é uma verdade. Mas independente de temas mais ou menos urgentes, é preciso respeito, informação, educação.

Por vários momentos cruzei com pessoas interessadas em saber mais sobre os meus escritos, enquanto eu mantinha aquele ar constrangido de desconfiança; como se eu não acreditasse em mim, como se eu não enxergasse a relevância do meu ato criativo – mesmo inserido num país onde pessoas morrem de fome por falta de arroz e feijão, onde não há formação de jovens futuros leitores, onde a violência grita cada vez que você põe as fuças fora de casa, onde Felicianos da vida promovem o ódio, o preconceito, a repressão, a falcatrua, a cura-gay.

Então um grande amigo uma vez disse que eu deveria defender com unhas e dentes o que eu sou (isso serve para todas as esferas da vida) e o que produzo. Não sou jornalista, nem publicitário, nem it-boy, nem filhinho de papai, não trabalho com moda, e sou mais um entre os que não sobrevivem da literatura nesse país. A minha formação em Letras numa das melhores universidades públicas do país, garante que eu trabalhe com o que mais gosto e me identifico: a educação. Além disso posso exercer o meu papel de profissional e cidadão (além da revolta contra o sistema), que é fazer o diferencial em sala de aula, contribuindo com o que aprendi através da vida e dos livros para que os meus alunos do ensino público exerçam o senso crítico.

Esse desabafo-explicação é o meu posicionamento diante do universo, dos sonhos, das certezas, das críticas e da realidade. E mais uma vez: o que é do homem o bicho não come. Boto fé em mim, em você, no mundo. E no seu amor.

2.5.13

pequeno guia da vida numa noite sem sexo


Divas antropofágicas:

Quando o domingo acaba, a última sensação antes de fechar os olhos e dormir nunca é babadeira. São raras as exceções e os buracos onde nos metemos. Mas o friday night não foi um luxo, nos perdemos no caos como aquele amor que ronda: o beijinho que roubei de você dentro do banheiro unissex e porco. Mais uma vez (sem pestanejar) o amigo designer-sem-um-pingo-de-autocontrole sambou nos pés da falta de compostura. Graças aos anjos, duendes, fadas e gnomos, ele faz um esforço de Neandertal e ouve os meus conselhos. Sim, ele apenas os digere em silêncio, porém o caos mostra suas garras e há nosso duelo de divas antropofágicas. Cada uma com sua razão, desequilíbrio esquizoafetivo e agonia. O resultado é desastroso. O inferno de Dante interplanetário onde, teoricamente, compareceríamos a uma festa hype out of control no fim do mundo. Mas tudo saiu pela tangente e ao contrário. Pensamos assim: “se comparecermos à festa, daremos ibope a esse povo; se não comparecermos, não daremos ibope a nós mesmos”. É assim que analisamos a importância das coisas.

Quit smoking:

At work Mr. Bossy told me to quit smoking, aí roubei a resposta de mamãe quando ela afirmou que, ao nascer, ao invés da primeira mamada, ela fumou um cigarrinho.

Nota mental vingativa:

Quero acabar com todas.


Shake shake shake:

Terça-feira com cara de metal. Relembro os fotogramas de você ao lado de um fusca em 1976. A atmosfera dos rios que te afundam e você nem sequer me convida prum milk-shake de shopping. A eterna dureza do sol, o cardigan que você não pode usar ao sol, a solidão que você não pode manter. A gente tranca a porta do quarto e pensa na grama verde do amigo, do vizinho, do paquera. Mas a grande ferida de tudo é saber que as consultas com analistas custam cada vez mais os olhos da cara.