28.3.12

obsessão no.17


num charminho de coração monossilábico tracei o game over da obsessão no.17 enquanto você dormia & eu me estilhaçava de cabo a rabo. space is only noise do nicolas jaar tocava ao fundo. as entranhas do quarto pintadas de azul noite estrelada deslizavam dentro de quadrados onde me pus a perceber que space is only noise if you could see. pedi uma chance ao silêncio dos homens de fina estirpe. você me decorou tantas vezes, noites, o telefone que toca sem parar: eu me pergunto se miss misterious é realmente sincera. ascendente em escorpião, dizimada no calor do sertão central ao invés de me pedir desculpas - colorir os fios negros da voz contra o universo. pedi massagem nos pés após longas horas sem descanso. eu simplesmente acordei durante o caos que a chuva proporcionou à cidade que não é fofa. não obtive resposta desejada, por isso tratei de me resolver enquanto era tempo: obsessão no.16 riscada do caderninho. sonhei que dividíamos a estante de livros mais uma vez. aí você oscila como se eu me impedisse de me perder. trocamos dicas, livros, sinopses de filmes, & ao invés do agradecimento, interpretamos zumbis na carniça. 

16.3.12

cilada óbvia



Quando há o medo de dizer a coisa errada você fecha os olhos e repensa palavras, cala a própria voz e ninguém sai ferido? Ou quando você é o único ferido numa competição de frases de efeito sem qualquer serventia. Aí há os que fingem amor, cumplicidade, troca mútua de olhares de aço, olhares de mármore na cidade tão desabitada. Conversando a gente não se entende e o que eu menos preciso é de uma cilada óbvia. Nas regras do ofício perdi o tom pessoal numa cruzada de paixão e ódio versus alguma coisa escondida atrás do pensamento.

12.3.12

fist fucking



Eu havia planejado ler Faulkner na cama enquanto o sono me arrastasse aos sonhos do dia seguinte adormecido – diante das unhas encravadas, do abandono, dos momentos de luz, lucidez, paixão reprimida, desgostos proferidos na alma e uma devida inquietação que há de passar, como se ao invés de reprimir a raiva, eu insistisse na obediência às regras que cães desmascarados como nós impõem. Todo absurdo é visto com olhos de mercador. Um círculo de peso acima da própria cabeça. Gente boazinha demais, vampiros à deriva em mídias sociais multiplicadas ad nauseam enquanto nos separamos e nos afastamos do abraço. Durante dias pensei num plano onde a tática é soar moderno, desencanado, distribuindo sorrisos como um filme da vida que toma forma nas esquinas da capital.

Na manhã chuvosa de 9 de março, rabisquei o diário pela milésima vez, forçando a barra todas as noites antes de dormir. Na manhã seguinte o plano de viagem, a escolha alta no céu numa pausa para horrores domésticos.

As supostas divas da literatura caem de bruços em declarações lânguidas a respeito do tempo, das coisas fofas. Divas que não são divas, quando o meu silêncio a respeito deverá ser do tamanho de suas fomes.

Momento “vamos assumir o cu da realidade”.

Quero domingo em sua claridade incandescente para que eu determine o futuro do livro. O livro do ego, da prova, da discórdia, do elemento eu sou eu.  

Meses e meses tão bruscos numa sonolência de amor desativado. Meus textos são limbos suspensos no decorrer da salvação privada. Os teus olhos não se colam aos meus, por isso sou redemoinho que desorganiza as folhas secas. Abraço da chuva, coração na tempestade, pés molhados, lágrima camuflada.

8.3.12

fantasy

[fragmentos costurados com aspecto de relatório e desabafo atrás das cortinas de veludo]
[eu não preciso que você esteja aqui, pois a verdade é que eu me escondi em algum lugar deveras sombrio]
[por alguma razão inútil, sou eu a desperdiçar as cartas na mesa]
[excelência, my dear: um 4 por 4 sem demora no topo de qualquer montanha]
[decidi não enviar missiva carinhosa ao cúmplice, pois precisei cuidar dos meus próprios abismos]
[enquanto era tarde, a noite sambou e caiu de joelhos]
[textos inspiradores me causam danos irreversíveis no decorrer da vida]

1.3.12

daylight

brasil. 2012. realidade-chimpanzé.
o que você havia imaginado é justamente o contrário.
engraçado, né?
quem você tem por perto é mais uma vítima do mundo que gira, gira, gira.
dores devem ser guardadas, nunca domesticadas e jamais divulgadas.
meu coração há de fechar as portas (mais uma vez) e quem deve buscar as respostas sou eu, pois as dores do parto e da perda não matam.
do açougueiro, você só espera a carne.
gato por lebre que pela milésima vez me faz abrir os olhos.
open your eyes and shut the door.
e já não há jarros de flores suficientes para a destruição em massa.
chegou o momento de convencionar o silêncio versus bola pra frente.