21.8.12

aos olhos fúteis da condição humana


de quebra, imaginaria almofadas com desenhos de tigres que descansam em poltronas onde largo o corpo sem vida daquele deus grego estampado na tv. então abro a geladeira, esquento o arroz no microondas, faço biquinho enquanto na mente você atuou numa obra prima de bergman entre os anos 60 e 70 e liv ullmann morria de ciúmes atrás da cortina de veludo mais vermelha que o sangue. sangue igual ao leite derramado às 7:45 da noite após a primeira garfada. é que no silêncio do apartamento eu me persigo tomando nota das possíveis resoluções traçadas com esmero entre as páginas do diário. seria tudo em vão caso a ordem dos fatos significasse homem ama borboleta, garoto cai da bicicleta, pintamos de branco a parede do terraço.

13.8.12

nunca fui bom moço



o amante de lady chatterley no pé da cama quando o domingo torna-se menos “nó na garganta” e a segunda-feira triunfa nas ruas do meu querido terceiro mundo.
eu sou o terceiro mundo.
segundo alguns gatos pingados da cidade, “relevância” é um prato a ser servido durante as 24 horas do dia. qualquer cruzada de pernas em momento indevido já é inadaptação ao processo.
[gente que troca o famigerado high society intelectual por um membro de 23cm, ora bolas]
é que na verdade sempre fui peixe e sempre morri pela boca.
e quem sabe seria o máximo ser aquele por quem os sinos dobram, dear hemingway.
mas enquanto isso, tudo é estratosfera.

5.8.12

filme: tiny furniture



Eu não poderia deixar passar em branco mais uma obsessão do meu leque de obsessões: Tiny Furniture – primeiro longa de Lena Dunham (atriz principal, roteirista e diretora da série Girls).

Incrível, pois Lena atua, escreve e dirige as próprias produções.
                                   
Até então, Girls foi o grande highlight do ano pra mim, pois sou o tipo de pessoa que precisa manter um alto nível de identificação, principalmente com filmes, álbuns, pessoas... E Tiny Furniture supriu qualquer expectativa rala que eu tivesse (afinal, expectativa maior que a boca, olhos e coração é algo que realmente não recomendo, sequer, ao meu pior inimigo).

O filme é sobre Aura, que volta a viver com a mãe e irmã em Nova York depois de ter se formado em Teoria Cinematográfica e ter sido abandonada pelo namorado.  Os papeis de mãe e irmã são interpretados pela própria mãe e irmã de Lena Dunham (Laurie Simmons e Grace Dunham).

Tiny Furniture trata da solidão do ser humano sem qualquer pieguice ou melodrama. É um filme simples, que expõe de forma sutil a escassez de comunicação, os laços que dissolvem o contato entre indivíduos. Aura simplesmente vive os seus dias numa busca por aceitação, anulando-se como a resposta que ela precisa para seguir em frente.

O filme já faz parte do meu top 10 de filmes da vida. Incrível como uma boa ideia na cabeça, por mais que simples, faz a diferença. Tiny Furniture é uma espécie de ilustração que retrata pessoas como nós, gente que trabalha, estuda, tenta um lugar ao sol, busca uma forma de se expressar diante do mundo, do amor, das frustrações.

Aura é obrigada a se contentar com um diploma sem serventia, com a pressão da mãe (fotógrafa e bem sucedida) e irmã (adolescente prodígio), com seu hamster de estimação que de repente morre, com a melhor amiga que finge que o tempo não passou e que a amizade continua a mesma, com um trabalho mal pago de hostess num restaurante, e com seu vídeo artístico que atingiu 400 hits no YouTube. Além da ausência do amor e das supostas paixões imaginadas.

Aura vive e sobrevive as barras da vida. Super recomendo com 5 estrelas impenetráveis.

(Tiny Furniture, EUA, 98 min.)