25.1.12

a regra é enlouquecer de vez

 
Realidade macabra: estar puto 24 horas por dia, não dormir suficientemente bem minhas míseras 5 horas diárias, engordar 4kg, exagerar na bebida em plena segunda, terça, quarta etc. Trabalhar com pessoas e me irritar com as barbaridades em profusão que ouço, vejo, sinto, respiro e me enojo todos os dias: reclamações, crises de ego, carências, desequilíbrios emocionais – aquelas pessoas que sentem prazer em infernizar a existência alheia como se fossem os seres humanos mais merecedores de atenção na face da terra. Como se não bastasse, um cachorro foi atropelado por um ônibus em altíssima velocidade diante dos meus olhos. Por sorte, o pobre do animal cambaleou mas saiu vivo, grunhindo – e eu a única pessoa a me aterrorizar com a cena, enquanto quem estava por perto fingiu não se importar. Cadê o pingo de sensibilidade dessas pessoas, meu Deus? E todo mundo continua furando fila, sujando as ruas, matando e morrendo com nada. É a falta de educação e sensatez de um país chamado Brasil, pois não importa se você mora em São Paulo ou nos confins do Piauí, estamos todos no mesmo barco, baby, afinal Copacabana não é Sunset Boulevard, nem a Oscar Freire é a Fifth Avenue. Quisera eu ser dançarina de axé e descer até o chão, as coisas seriam bem mais fáceis. Acreditem, hoje foi o dia em que o maior número de pessoas resolveu atormentar a minha paciência, incluindo um senhor português no qual eu tinha que soletrar palavra por palavra para que ele me compreendesse. Sem comentários. A verdade é que eu tenho as minhas neuroses, traumas, obsessões e não projeto minhas incertezas nos outros. FIM! Ou melhor, é aí que a revolta continua.

19.1.12

penso buquês folhas ensaios armadilhas


[penso buquês folhas ensaios armadilhas, o meu coração é um templo mezzo árvore caída na ribanceira mezzo noite estrelada sem limites]

12.1.12

o lado b do amor e suas incógnitas


Querida pessoa X,

Eu ainda tenho forças. Se eu pudesse, trataria de recompor as recompensas e te expulsar diretamente do meu círculo de obsessões. Cansei, por eternos momentos extremos, de me debruçar em mesas de bares, citar teu nome vão – aquele buraco cor de lodo que me engasga, mas que me fortaleceu com um pé na bunda quando precisei dar uma voltinha por cima.

Eu poderia ser mais uma dessas pessoas felizes – como o casal apaixonado da novela – com aquele brilho no olhar de quem se encanta com o mundo e sua fórmula de ups and downs. Mas é que a minha ousadia em ter me apaixonado por você me destruiu as pernas, o tato, e não consigo esboçar um sorriso diante das possibilidades. Tenho bebido demais, pensado em você nos instantes em que o happy hour com os amigos serviria de consolo e comunhão entre irmãos. Tenho exagerado nas guloseimas, e infelizmente adquiri um aumento de peso impróprio à minha estrutura de indivíduo calmo, discreto. Perdi o controle nessa insatisfação que é te enxergar em fotografias junto com aquele amor que te faz tão bem, enquanto me contento em ser expectador da tua vida e regurgitar a dor.

Inutilmente tenho culpado o destino por não saber controlar a raiva, e em revolta derrubei um jarro de flores num falso acidente doméstico. O tempo passou e continuo preso às correntes do abandono. Mas o desconforto se torna raro quando sei que o meu futuro depende de uma dose de sorte, pois já não sei o que esperar dos dias.

Penso em você ao inventar mentiras, ao responder que estou tão bem quanto o frescor dessa brisa que assanha nossos cabelos. O amor que se tornou uma lama imaginária presa à minha disponibilidade na noite, nos drinks que vêm e vão, na madrugada de volta pra casa quando converso com o taxista sobre a previsão do tempo.

Meses e meses, semanas com aquela puta dúvida de discar ou não o teu número para um simples oi de “vamos passar uma borracha sobre tudo isso”. O primeiro instante do dia ao abrir os olhos e enxergar no teto a imagem desenhada do teu corpo.

Mas ainda não encontrei uma cartada final para este lado b do amor e suas incógnitas. Talvez como exercício, eu esteja no caminho certo e decida traçar o primeiro passo de uma auto ajuda enviando esta carta pública para revistas de fino trato, assim como quem não quer nada, como quem quer tudo.

Y.


(Texto publicado no Don´t Touch My Moleskine)

3.1.12

1974, love


Encaro a flor da laranjeira e os rastros absurdos do meu querer bem. Escuto a manhã, a febre dos homens, a relutância que me remete ao perigo. Juntos demais não formamos um só corpo, enxergo tudo próximo à cabeceira, mantenho o silêncio enquanto esvazio a cabeça – o que me permite ser oco: válvula de escape em demasia. Na cama, penso em coisas sensacionais, como se os mapas esquecidos desvendassem o caminho do meu amor petrificado, perdido no tempo. O telefone no gancho, os quadros, a notícia de jornal que te sobrepõe e me minimiza, pois ser plástico é uma questão de falsa escolha e pensamento. Corrida de cavalos enquanto seguro o teu braço e vestimos cores amareladas – o marrom e suas gotas. 1974 seria o ano da suficiência, nossos dentes ao mundo, os memorandos nas pastas, lembrança de qualquer resignação nas ruas do Equador, onde dançamos enquanto somos pobres.