30.6.13

me ajuda, roberto


Mas sempre acabo em teus braços do jeito que você quer – só que sempre ao contrário. Aí você está num bar super mal resolvido sexualmente e afetivamente e se depara com dois, três, quatro casaizinhos esteticamente incorretos e aparentemente felizes – afinal existe uma linha muito tênue entre felicidade e cerveja, por isso não vou forçar a barra. Então você marca um encontro com o suposto amor da sua puta vida em pleno final de semana do absurdo. Coitada, a gata está equivocadíssima. Mas como se não bastasse, você mantém aquele ar in extremis dos falsos profetas, fala muita merda, conspira a favor da autosabotagem e no dia seguinte corre pro banheiro pra vomitar sua humilde existência. Ficção pouca é bobagem. A vidinha anda insossa, eu não desgrudo do computador, eu gasto meus pobres míseros trocados demais, eu busco muito um filme sobre a realidade estagnada da vida na perspectiva de jovens como nós em pleno século XXI. Passo horas ao telefone decifrando pequenos dramas que se perdem no espaço. Ando perdido no lance cósmico e real da coisa. Aí o carinha disse que temos uma história, mas nossa história é para um futuro não tão próximo assim. Inclusive todos os meus brindes serão dedicados ao futuro. Mas eu me sinto horrivelmente belo.

27.6.13

fake shit


I don´t know you anymore from the bottom of my heart. Cair descalço na escuridão é um galho. Morrer de sede é uma afronta contra você mesmo. Eu ando em círculos, atendo o telefone, eu bebo o achocolatado do medo. Penso dois milênios em como se desapegar das pedras e dos cristais por todos os lados. Mexeu comigo, mexeu com o diabo. Você aí, segura nos bolsos os recursos que eu queria manter. A noite se transformou numa gata rodopiando aquele circo de quinta onde você também é um palhaço, o auto-reflexo do espelho. Um texugo verbalizando conselhos atômicos. Então let´s get out of here por um minuto apenas. Eu deixei que a boca se transformasse num véu onde as verdades foram inventadas ao acaso. Dizem por aí que eu me transformei numa dona-de-casa sem escrúpulos. Mas por bastante tempo, o impulso sexual de Klauss (monstro cheio de detalhes) foi digno de nota nas rodas comportamentais – afinal a intelectualidade das caras é ninho de ouro em terra de ninguém. Você não deveria ser a pessoa mais comprometida do planeta. Você não deveria ficar de quatro esperando o preenchimento das dúvidas. Morro de vergonha destes tempos. Carinha de anjo enquanto brincamos no inferno, pois rasgamos infinitamente os livros de autoajuda em busca de algo mais. Uma xoxota universal proferindo o caos, a vergonha das pernas, o jantar que não foi especial. Num campo de girassóis e hortênsias sujas de merda, eu também pago o preço bancando o otário, o sujo, o desestruturado emocionalmente. Na verdade eu nunca quis cartas de afeto, e sim es-tru-tu-ra. Eu me encontrei, velha e louca, dançando balé sobre todos os túmulos, inclusive os meus. Dramalhão de quinta onde os cegos são instrutores na queda livre.

Imagem: Steven Russell Black

22.6.13

odete se recupera sozinha trancada no quarto


It is in tune with the tempo of life — scattered yet welded into the whole, — broken, yet woven together.

William Carlos Williams

Sábado deveras truculento no lance íntimo da coisa. Sensação meio Odete do João Pedro Rodrigues trancada no banheiro, fumando, esperando o resultado do teste de gravidez de farmácia que deu negativo. As eternas performances (ou seriam buscas?) que eu não entendo, mas aí questiono e verbalizo e o pior de tudo é forçar a barra. Espero muito me livrar dessa chuva. Cutucando a onça com vara curta não é descobrir a verdade além da verdade. O meu problema deveria ser a escolha do jeans azul, do cigarro mentolado e da certezinha de que não rola, amor.

17.6.13

Filme: O FANTASMA (Portugal, 2000)


Em pleno domingo febril, preso às masmorras do meu castelo íntimo, me deparei com uma dica de filme subversivo feita pelo Sam Drade. O Sam tem o blog Dadagaio, que é uma puta referência no quesito filmes que você deve assistir para curar a ressaca da sua/nossa vidinha medíocre. Ele assina suas mini-resenhas da forma mais despretensiosa do mundo (sem aquela babaquice de querer soar inteligente).

Pois bem, O Fantasma é uma produção portuguesa de 2000. É o primeiro longa do diretor João Pedro Rodrigues. A obra em si possui aquela atmosfera de submundo das grandes metrópoles. O que acontece por debaixo dos panos. As taras irremediáveis, o descontrole autodestrutivo do personagem principal em busca de algo que nem ele, e muito menos nós, podemos definir.

Sexo, muito sexo.

Sérgio, vivido por Ricardo Meneses, é um coletor de lixo que mora numa pensão de quinta e que mantém uma vida sexual desregrada com homens dos mais diferentes tipos. Ele é um jovem mancebo que transpira recusa e resistência à tudo o que o cerca, como se não conspirasse a favor do seu próprio jogo/desejo.

O filme é cru, sem a tal pitada artsy que os cineastas que retratam a realidade gay insistem em tomar como ponto de partida (o que é ótimo). Há cenas altamente excitantes que envolvem nudismo, os famosos banheirões (com direito a sexo oral explícito), boys no chuveiro, sunga molhada – além daquela fantasia de látex colada ao corpo que muitos de nós não resistimos.

O desenrolar do personagem se limita principalmente à satisfação sexual, até que tal atitude se transforma num jogo/tara fora de controle. O tal parceiro frívolo – de uma noite qualquer de sexo casual – passa a ser a vítima que ele encontrou para se perder ainda mais.

Sérgio é um fantasma no corpo de um homem. Não seríamos nós também fantasmas?

O Fantasma é um filme independente que competiu no Festival de Cinema Internacional de Veneza. Venceu na categoria de melhor filme no Festival de Cinema Gay e Lésbico e Nova York, e no Festival de Cinema de Entrevues.


João Pedro Rodrigues é a sensação do momento na minha top list cinematrográfica/obsessiva.

10.6.13

manual do coração gritando


todos somos princesas impossíveis. é que falando em códigos (e no perigo dente de cavalo dos dias) espero muito que você busque nos bosques uma verdade tão pessoal quanto a que eu quero pra mim. uma colcha de retalhos do coração. uma armadura de rostos do absurdo – pois carão é ilusão, mas ainda bem que a gente dorme.

aí o feeling bitch at work nunca foi tão desagradável. aí assumo meu esconderijo atrás do escuro. não me rendo às ciladas. possivelmente você que se diz um barco. eu sou uma boia. só sei boiar, pois eles dizem que a minha loucura é sacanagem. fode aqui, fode ali, se finge de morto. mentira. fugaz como aquela música de bêbado. babacão que não cala a boca. ou que se cala em demasia. ou que o tempo é você mijando às 3 da manhã no meio da rua. um rastro de  paisagens que eu não quero. a superbarra do cigarro queimando entre os dedos. todos nós encarcerados.

uma espécie de verdade que precisa muito ser ecoada. cospe no prato das pobres almas. conspira em alternâncias sobre o que é mau, ruim, tosco, impropério, falta do que fazer. dois mil e dez parece que foi ontem. dois mil e dez que não tem fim. dois mil e dez que se prende ao cu. dois mil e dez que você já esqueceu, querida.
                                             
todos os cristais são dinâmicos
esclareça uma dor enquanto o mundo gira &
os comprimidos que você tomou ao entardecer
recriam doses cavalares de amor plantadas em jarros
de 1,99 no living room dos olhos,

pois eu também não consigo entender o verão
nem mergulhar na piscina
ou crucificar as quatro paredes de domingo
como se você existisse sobre mim

& não houvesse um manual do coração gritando.

5.6.13

podquinta + dfhouse


Se você sobrevive às obscuridades do mundo, você então percebe que nem sempre o início da semana tem cara de monstro. Aí participei do Podquinta #5 (que é o podcast do DFHouse). E falei um pouco sobre escrever e sobre O Impenetrável.


2.6.13

uma espécie de low deep blues


mais uma vez, esse texto que deveria ser poético, segue no encalço da realidade. e você não precisa provar nada diante do mundinho. a ideia surgiu quando imaginei aquela calça de couro e pensei num poema sobre a mais pura verdade do coração. teria o título de LEATHER. sim, motivado por indignações circunstanciais. aí abro a janela para que a claridade me surpreenda. hit me one more time, it´s so amazing. citando britney diante do trono porque é bem legal ser você mesmo no verão ou ao lado de piscinas, como sempre. então pausei demais a produção do livro por culpa do calor, portanto i feel clean and hot sem culpa. não é uma maravilha universal quando você recebe um telefonema perguntando se tudo está bem? okay, escrever porque a sua realidade é isso. porque você precisa disso. porque todas poetas suicidas se cansaram de usar máscaras. e hoje, francesca woodman não me sai da cabeça por míseros segundos. ela, a fotógrafa. tão jovem, tão fresca, tão tudo: menos plástica. não resisto e acendo mais um cigarro, o tempo esquenta, abro mais a janela; a claridade surpreende por mim, por você, por todos nós. hoje eu deitaria e rolaria numa cama de plumas. hoje eu não investigaria o silêncio. e nada de carão tipo whitman.

Imagem: Francesca Woodman