26.4.11

sobrevivência delícia

Posso enlouquecer a qualquer momento, dear lord. Numa bela noite, domingo, com direito ao banho de chuva enquanto eu menos esperava. Roupa preta colada ao corpo, molhada ao corpo, como se eu fosse um objeto a ser poluído pela cidade. A grosseria da cidade, os olhos de fera, a má disciplina alheia que morde & me desgasta enquanto os dias de merdinha protuberam, lindos, iguais aos cus. O cigarro ao meu lado, companheiro fiel ao viés de tantas coisas que se aproximam, não sabemos o nome, ou o porquê, ou o vexame das gargalhadas. Sem um puto no bolso espero que você caia de joelhos, pois você não existe, tudo se manifesta na imaginação aqui desmascarada, igual aos que dizem que "a vida é dura pra quem é mole".

E pensar que atrás do espelho o que vivia era uma fera em lentidão.

Por causa daquele membro disfarçado
caí de joelhos &
emoldurei a roupa preta
no espaldar da vida.

Meu balé é um samba no batuque da madrugada - porém as putas enfileiradas me desmentem: não sou nada, Claudete.

22.4.11

não há paixão na sexta-feira da paixão

Infelizmente fui educado numa instituição católica até os meus 16 anos, onde me mudei para a "big apple" do mal gosto & de gente não civilizada. Me larguei, abri os olhos & a boca, saí, bebi & percebi (com meus olhos de não sei o quê) que o mundo é bizarro & tudo é uma grande farsa de quinta categoria. Aqui, o meu propósito não é falar sobre religião ou princípios ou me lamentar ou criticar a "existência" em si. Não se trata de um dia de cão, ou de má sorte. É o meu momento-revolta, pois sempre tentei ao máximo ser transparente (o que se mostrou ser um grande erro). Todos somos uns filhos da puta & dane-se quem quiser, eu não me importo.

Antes de ontem, sim, foi um dia-cão misturado com cansaço, exigência de atenção & whatever, até sentar numa mesa de bar para a botecagem-salvação. Maarji telefonou, como se soubesse que eu precisava infinitamente dela: a ótima amiga, que veio ao meu encontro. Francisco Matias, também com sua visão apocalíptica do meu "desespero" telefonou & compareceu com sua presença digna. Leonardo (enquanto menos esperávamos) deu o ar de sua graça (para nossa supresa & gozo). Sim, o dia-cão se transformou numa mesa de amigos, sorrisos, inúmeras cervejas. Mas como se o destino quisesse ofertar o seu cu sobre a minha face, percebi que eu havia esquecido todo o meu dinheiro no hotel onde trabalho. Eu, cansado, exausto emocionalmente, fisicamente, mal vestido & sem um puto no bolso. Okay, amigos trabalhadores & prestativos ofereceram ajuda ao queridinho aqui, dinheiro não foi problema, dessa vez quem esfregou o cu na face do destino fui eu, ecoando a frase: "money is not my salvation, motherfucker".

Sim, o consumismo me encanta, pois Matias, estilista de nossos corações & da moda, trouxe pra mim a bolsa de sua nova coleção, caríssima, de couro resistente para vida, & só pagarei quando puder. Sem contar o presentinho adorado de Brayan Ivanovick: um colarzinho mimoso de caveira. Sim, caveira. Mas o tempo voou como uma gozada em milésimos de segundo quando Maarji & Leonardo tiveram que ir embora. Continuei na mesa, bebericando ao máximo como ninguém que eu conheça, com pessoas que eu nem sequer saberia distinguir o nome, pois eu já não falava coisa com coisa, eu não ouvia coisa com coisa, & a vontade de descansar lânguido na minha cama era do tamanho de um imenso pau que jamais caberia na boca. Então Matias me acompanhou até o táxi & pagou a corrida, é claro.

Porém hoje a volúpia me acompanhou por toda a manhã, princi"PAL"mente quando notei, com meus olhos de águia certo detalhe... certo exagero... certa imensidão... em fulano de tal que jamais ousarei dizer o nome & que jamais ousarei contar os detalhes aqui, afinal os meus olhos são capazes de me proporcionar orgasmos múltiplos. O resto é segredo imaculado. Por favor, não insista.

(Querido Pavel Novotny, desculpe a comparação, mas você não vale nada, pois você não é real & você mora na República Tcheca ou na Hungria & você é uma droga impossível de suportar aos olhos de um ser humano como eu, pois não sou geek, não sou trend, não sou fancy, não sou cool, não sou antenado, não sou in, sou HEAVYYY).

Posso continuar?

Não adianta confiar nas pessoas & a sua noção de "eu" é a sua maior cartada na vida, baby. Joana, no mesmo dia, me enviou via sms a seguinte frase do Bukowski: "Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a melhor forma de entretenimento que posso encontrar". A falta de sexo gerou isso aqui, algo IMPENETRÁVEL. Mas sexo, como salvação ou libertação do estresse não tá com nada. Não sou alguém sexual, jamais serei alguém sexual & não saio por aí catando gente ou olhando de um lado para o outro em busca de vítimas frívolas. Afinal, se você sente prazer em transar com um corpinho sexy ao invés de uma boa cantada, de uma boa dose de inteligência, de senso de estética, de emancipação transcendental & de princípios íntimos-revolucionários, respondo com a seguinte declaração: você jamais fará parte do meu bonde, sweetheart.

Já não sei como continuar tal manifestação voluntária, tudo saiu como eu não havia planejado. Desejo o meu amor aos queridos, & aos inimigos, que eles sofram como eu sofri.

Blood is the new black. Segunda é o novo sábado. As drogas são uma delícia. & eu quero escrever cartas para contar & inventar todos os meus dramas. Como diz Ana Cristina Cesar: "Eu quero que você saia daqui".

Beijos meus no ponto onde tu há de desmoronar,

Antônio LaCarne.

19.4.11

parâmetro do orgulho

o antes de dormir é um drama apocalíptico, & deus ensina uma lição ao homem & ao mundo. como se eu me partisse em pedaços desfeitos: pênis, osso, axilas, ventre. a revolta é a cereja do meu bolo. na palma da mão, uma roleta russa. a saudade vem quando é preciso escrever cartas. vontade de contar detalhes. impenetrável como tudo que nos ronda. às 4:30 da manhã acordo, lavo o rosto & me desfaço aos pés das convenções sociais nas horas subsequentes. ser humano: destruição em potencial. utopia do momento: redimir meu próprio rosto para que os cães sem dono não ousem ultrajar a minha estética.

15.4.11

clarividência

terceiro cigarro na boca & ontem foi dia de dragão fashion brasil 2011 ao lado dos amigos, da moda, dos horários & das inconveniências. tá ótimo, não tá ótimo? tá ótimo!

além da conta dormi, mantive o silêncio por horas, mantive o corpo no caminho (qual caminho) & não quero ninguém por perto. hoje.

sonho com o mês de maio: férias merecidas na praia deserta de canoa quebrada onde ninguém sabe meu nome. talvez eu me torne mudo, como a personagem interpretada por liv ullmann em persona, de ingmar bergman.

escreverei cartas de lá a serem mantidas em segredo. segredos de todos nós. as ondas como presença.

13.4.11

kierkegaard, abraça-me

não poderei recusar as ofertas dos dias, das noites, dos tristes cansaços. o amigo veio, como quem nada quer & me fisgou para confidenciar dramas amorosos. no tal desabafo alheio eu buscava uma distração, liquidez em forma de gente que não molha, malha meu ânimo, sem sucesso. outro fato foi perceber os cigarros esquecidos enquanto eu fuçava a bolsa, como quem fuça a vida, como quem fuça demais & nada encontra, além, no caso. perdi-me sem perceber o outro diante da escuridão da sala, onde a professora, possivelmente tola, exibia uma filme sobre adolescentes, o tema: autocracia. agora sei que os meus 27 anos não permitem paciência gratuita. foquei meu retorno ao lar, em silêncio, ousando propagar minha revolta às moléculas de ar & aos conhecidos que eu jamais deveria ter visto. preciso me debruçar nas obras de kierkegaard o quanto antes, meu deus.

10.4.11

sou uma fera deslocada na savana

& essa chuva que não morre, meu deus. tempestade em terra de sol bruto, bueiros entupidos do Brasil, & o povo que não se acostuma com as poças, os respingos, toda a degradação que uma chuva (que já deixou de ser bem vinda) nos presenteia.  é domingo, friozinho, eu aqui, a cumprir meu horário de trabalho no hotel. no jornal, a manchete: “em uma hora, ruas alagadas e caos geral”.  mas aqui, sentado, esquecendo o drama pluvial do céu, de são José & das ruas fétidas, encaro outros fatos. loucuras, desvios de personalidade, paranóia, desequilíbrio emocional de tantos hóspedes (um em particular). pois é, tal homem, que se diz dentista, esperou a visita de um jovem que veio, subiu, & em 15 minutos desceu & esperou a manifestação simbólica da chuva cessar. creio que eram amantes, possíveis amantes, ou dinheiro versus sexo. mas não sou contra a chuva,  & o meu conselho é: a vontade de sexo & cama é uma maravilha, porém não compartilhe (face to face) seus desejos ou fantasias sexuais com estranhos. é o fim da picada, como a tal chuva, desnecessária, deselegante no domingo que não é a beleza da semana, e sim o karma. sou uma fera deslocada na savana.
besos,
antônio lacarne

9.4.11

evacuação do céu perfeito

uma nova vertente da vida é aquela que você não reconhece, & ao pensar, os caminhos continuam presos. é uma forma de desengano leve, nunca atual, ou melhor, enraizada. (uma merda, pois eu poderia ter dito outra coisa).

posso ser eu mesmo, aqui. a filosofia impenetrável toma forma - para a salvação de todos nós, que experimentamos sucessivas merdinhas diárias.

aqui é o espaço onde exercito minha liberdade de escrita. a humanidade é deprimente. a salvação veio (ou virá) com marcas de sujeira, erro & sangue. o tempo passa e você amadurece, analisa o porquê do destino (sem qualquer conclusão óbvia).

mas no final das contas, qual é mesmo o nome da coisa?

deixarei a janela do quarto aberta. dormirei & acordarei cedo, pois é de luta o estar de pé, o estar atento.

(antonio lacarne)

5.4.11

sem título

aqui eu exercito a morada dos meus deuses que acordam cedinho, lavam o rosto e partem para o trabalho. tudo é questão de sobrevivência. dinheirinho no final do mês & aquela impaciência que te modifica aos poucos & que te faz recusar certas ofertas. é assim quando você não tem um corpo possível para caber em si mesmo. deixei de lado os horários a cumprir, não sei por quanto tempo durar. os dias de compromisso gritam por mim enquanto anoto em pedaços de papel atitudes para o dia seguinte. mas perdi o foco, deixo a música entrar, possuir os espaços com a minha boca a dublar frases curtas, enganosas. são 10:34 da manhã de um dia que não não sabe se chove ou faz sol. & amando você demais, percebo que na última noite de máscaras, meu sofrimento deu lugar ao olho que tudo vê & descarta. estou livre para não perder tempo com a boca que hesita.

1.4.11

quinta-feira salubre no pre-party ou after quando você se choca & algo muda? sweet dreams in touch

finalizando março com pompa simples, botecagem em plena noite de quinta (feira) pós-faculdade ao lado de maarji & personas numa mesa (& porções de caranguejo servidos em pratinhos de farofa & limão). sorrimos, unidos, com leonardo & seu novo corte de cabelo. amanhã, que já é hoje, será a minha vez de cortar a juba, adquirir novas forças & seguir além. a vida é um pouco de self-marketing, pois somente nós  sabemos o que somos, o que nos tornamos - quem está de fora só lança palpites. mas a dica para a manutenção dos dias é: sorria, a impessoalidade também é justa. o coração sabe distinguir quem vai & quem fica.

besos,
la carne.

música do dia: leonora (hercules & love affair)