12.3.12

fist fucking



Eu havia planejado ler Faulkner na cama enquanto o sono me arrastasse aos sonhos do dia seguinte adormecido – diante das unhas encravadas, do abandono, dos momentos de luz, lucidez, paixão reprimida, desgostos proferidos na alma e uma devida inquietação que há de passar, como se ao invés de reprimir a raiva, eu insistisse na obediência às regras que cães desmascarados como nós impõem. Todo absurdo é visto com olhos de mercador. Um círculo de peso acima da própria cabeça. Gente boazinha demais, vampiros à deriva em mídias sociais multiplicadas ad nauseam enquanto nos separamos e nos afastamos do abraço. Durante dias pensei num plano onde a tática é soar moderno, desencanado, distribuindo sorrisos como um filme da vida que toma forma nas esquinas da capital.

Na manhã chuvosa de 9 de março, rabisquei o diário pela milésima vez, forçando a barra todas as noites antes de dormir. Na manhã seguinte o plano de viagem, a escolha alta no céu numa pausa para horrores domésticos.

As supostas divas da literatura caem de bruços em declarações lânguidas a respeito do tempo, das coisas fofas. Divas que não são divas, quando o meu silêncio a respeito deverá ser do tamanho de suas fomes.

Momento “vamos assumir o cu da realidade”.

Quero domingo em sua claridade incandescente para que eu determine o futuro do livro. O livro do ego, da prova, da discórdia, do elemento eu sou eu.  

Meses e meses tão bruscos numa sonolência de amor desativado. Meus textos são limbos suspensos no decorrer da salvação privada. Os teus olhos não se colam aos meus, por isso sou redemoinho que desorganiza as folhas secas. Abraço da chuva, coração na tempestade, pés molhados, lágrima camuflada.

8 comentários:

  1. Fico feliz que tenha sido um pouco construtivo para o teu lado político engavetado. hehe... Cara, e esse teu post é do tipo: se você lê apenas uma vez, vai entender porra nenhuma, mas vai se preencher de uma poesia singular e rica! Hahaha, parabéns!

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  2. momentos vamos assumir o cu da realidade: as pessoas n tem menor medo em serem cruéis gratuitamente e também ao fugirem de suas próprias explicações

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  3. quero a sorte de toda a claridade estampada nos meus dias de corações molhados.
    lindo!

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  4. Você, tão Caio Fernando Abreu, lendo o Faulkner que nunca tive oportunidade de.

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  5. Antonio,

    visitei seu blog uma vez e encontrei outro tipo de texto, não guardei o endereço mas procurei por cerca de duas semanas insistentemente. Hoje encontrei esse lamento (ou não) em prosa poética que não vai me deixar esquecer esse endereço novamente.

    Até a próxima.

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    1. jay, tentei comentar no teu blog e não deu certo. apareceu uma mensagem dizendo que eu deveria ser membro. muita coisa linda no teu "desvairando-me". um beijo.

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  6. eu acho lindo você ser turbilhão e não água rasa. e essa frase: "Meus textos são limbos suspensos no decorrer da salvação privada", tão 'quotável', é de lembrar para sempre.

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  7. Obrigada pela visita, Antônio. Volte sempre que quiser. Adorei o subtítulo do seu blog e também dos seus textos visuais e cheios de sinestesia. Gosto muito disso: "Abraço da chuva, coração na tempestade, pés molhados, lágrima camuflada". Passarei aqui mais vezes.

    Bjo

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