Querido pai desencontrado,
os olhos são telhas de vidro,
o fruto em minhas mãos nasceu de tua árvore,
o teu amor-silêncio é unicamente
sangue, não é presença,
recebi amor estrangeiro ao nascer,
e a culpa não redimiu os meus pecados,
a glória na remissão dos meus pecados.
Mas o que não se desfaz,
o que não se esconde,
este sou eu e não uma cor verde,
este é o desejo sobre tua memória,
e a tua morte será o meu grito:
um castigo de dor que alivia.
Muito longe de ti
em voltas, cambalhotas, quedas.
Muito longe de ti
e a falta do teu divino reconhecimento
que para mim é tesouro sem pedras preciosas.
E já estou perdido nesta cidade,
inútil em pedir auxílio,
inútil como os descrentes nas ruas.
As ruas, as esquinas, as pessoas mortas,
o barulho, as coisas, as reações.
Sou escravo das ventanias da mente,
correntes prendem as tuas mãos,
mordaça em nossa boca,
minhas pernas arranhadas.
Sou escravo muito longe de ti,
os olhos são telhas de vidro,
um castigo de dor que alivia,
este sou eu e não uma cor verde.
Imagem: Nucleus Medical Art, Inc.
A nossa vida e as nossas origens.
ResponderExcluirO que somos e o que fazemos.
A figura do pai está muito bem.
eu, que estou louco para ler teu livro, me senti agraciado com este poema.
ResponderExcluirvocê, como poucos que conheço, tem o dom de construir imagens tão bonitas e delicadas que são o pilar da sua poesia. são elas que garantem o requinte de suas palavras.
e eu sempre lhe agradecerei por isso, enquanto você e seus textos seguirem falando tão dentro de mim.
super beijo.
Bom dia, apreciei o que tu escrevestes, e digo: Conheces o "Versos de Fogo?"- William Garibaldi Hoje ele postou algo parecido com tua aflição, uma bela cronica que nos remete a uma otima reflexão, visite-o e tire suas proprias conclusões...abraços e belo teu poema, forte e sincero!
ResponderExcluirE as cenas foram se formando aqui, durante a leitura. Envolvente isso. Tocante.
ResponderExcluirUm beijo.
Concordo com a Luna, é um poema bastante visual e impactante em todos os sentidos.
ResponderExcluirParabéns, meu caro!
Belo, profundo e comovente poema. Um verdadeiro desabafo de um filho que do pai somente ver o sangue, isso se provocar o seu aparecimento.
ResponderExcluirAbraços,
Furtado.
Não sei comentar poemas, mas gostei do seu. Falou muito pra mim...creia. rs
ResponderExcluirQuando fui escrever sobre quem eu era no facebook disse, depois de relatar alguns acontecidos e contar que desde sempre tinha estado em lugares sem poder fixar com toda a força as mãos em braços de cadeiras e pés num soalho duro qualquer que me desse segurança, disse depois... repito, disse: "mas sempre li e escrevi," logo senti súbita e forte sinestesia por suas palavras agora, quando diz se orgulhar em ter deixado o livro pronto liberto, livro muito bem devorado por mim e fico também orgulhoso me sentido lisonjeado em poder tê-lo sobre minha estante, livro a qual me dá sempre que o vejo mais confiança de num futuro próximo ser eu quem tenha de ver algo que criei livre, porque o que me liberta é a criação, ou a tentativa. Beijos!
ResponderExcluirA gente nunca se liberta?
ResponderExcluirNão há liberdade?
Um ótimo texto, uma ótima semana!
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirObrigado pela visita ao blog, como o descobriu?
parabéns pelos textos, rapaz.
abraço
Uma delicia o poema!
ResponderExcluiradorei! emociona, é de verdade...e parece que conta a historia de vocês direitinho.
ResponderExcluirRealmente um poema muito bom de se ler,
ResponderExcluirele reflete em nossa diária,
e mais, nos faz perceber a morte
de um ente querido, por um outro ângulo.
Parabéns,
Dan
Myra como Anonima!!!
ResponderExcluirmuito muito muito BOM!!!!muito sentido e sempre com um sentido de humor otimo!
O poema todo é lindo e dolorido, mas esses versos são o chute maior no estômago:
ResponderExcluir"e a tua morte será o meu grito:
um castigo de dor que alivia."
É preciso ter coragem para vomitar em palavras o que nos embrulha o estômago.