14.2.14

COMETA



Não insisto mais.
Aquele encontro virou desperdício.
Você por fora, eu por dentro.
A reprodução febril dos ratos.
O amigo que não me consola por
algum motivo estranho.
Não atendem o telefone.
Mas eu sempre insisto.
Tomo mais dois comprimidos e estou de volta.
Penso no jovem que segurou o portão
enquanto eu me distanciava do prédio.
Muitas bobagens e não decoro.
O gato que se deita na mesinha de centro.
Acabei investigando o poema sem saber o porquê.
Nem sequer o apartamento me define.
Estou sozinho nos círculos extremos.
Fecho as janelas e morro de um calor imenso.
Mas a cabeça ainda dói.
Não quero parar por aqui.
Hoje, um simples acidente na cozinha.
Eu sempre me chateio antes de você.
Se repito, a história não muda.
Tarde demais, então penso.
Cavalo longe da chuva.
Passos largos.
A distração do cometa.
Homens que não prestam.
Aquela mesma sensação imprevisível.
Não falarei sobre as sortes.
Apenas escrevo.
Manco de uma perna, dor de dente.
A gente sempre encontra uma razão.
Estou em volume interno.
Na quarta página você esquece.
Suspiro.
Nunca esteve aqui.
Nem ontem.

10 comentários:

  1. Triste, ninguém gosta do outro da mesma medida. Há sempre um desencontro, um contraponto. Há sempre um atenuante salvador, por qual torcemos. Há sempre um nuance, pequenas particularidades de temperamento. Sempre dúbio, o outro é nossa alegria e tormento.

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  2. O desencontro, o desacerto e a dessintonização são o pão nosso de cada dia. Difícil é sempre o acerto e a harmonia, a começar por nós próprios.
    Gostei do poema, Antônio.
    xx

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  3. E essa ilusão de criar a presença só avoluma e infla o desencontrar, no final deixando só a palavra como resgate.

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  4. O legal de você ter transformado prosa em poema (ou vice-versa) é que a gente não se perde tão facilmente. Tente colocar essas frases em conjunto, num parágrafo, e você se perde. Uma construção interessante.

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  5. Amei, Antônio! Super me reconheci em vários momentos: "estou em volume interno". Adorei isso!

    Bjos e obrigada pelas palavras em relação aos meus textos. Gosto muito de passar por aqui também! ;)

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  6. Obrigado pelo comentário no meu blog, adorei!

    E me identifiquei muito com o seu poema.

    Abraço!

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  7. Antônio, que poema mais substancial.
    Cheio de si, de mim e todos nós!

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  8. Muito triste. Parece um pouco do que eu vivo hoje. Perdi um amor de cinco anos e meio. Parei de insistir.

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  9. Gosto muito daqui, teu tato com as palavras é daqueles raros.

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