1.9.12

lágrima de osso



Cigarro após cigarro & cada baforada emite aquele tom degradê de recusinha, carinha de anjo mal amado sobre a superfície das coisas mais frívolas, meu Deus.  Vou emancipar a tal voz que resume coração alheio, coração meu, coração quiçá teu que não me alivia, nem me reveste num casamento de aparências. Mas se eu quisesse bancar o verdadeiro anjo, eu teria uma pobre asa mirrada presa ao tempo motherfucker de putinhos aniquilando ralé versus ralé nas minhas fuças. Domingo preso ao horário transmutado, bater o ponto, os pontos. Seguir na condução enquanto jovens de quinze anos comentam namoradinhos de plantão tão lindinhos, tesudos, jovens. Corro nas ruas tal & qual a imagem que o filme descreve na noite, ali na América do Norte onde jamais, oh jamais eu repousaria tranquilo. Porém a amigona de tempos árduos & resfolegantes utilizou todos os conselhos & recursos possíveis. Ela se cala, muda de assunto como quem esquece de descascar as bananas. Eu também tranco a voz, pois o desgaste na saliva me transportou num barco à deriva quando sofri noites sem dormir & me lancei nas drogas casuais, esfaqueando meu pobre teor romântico a favor de alguma síndrome sem nome. Climão das consequências. Dia seguinte num lago de flores murchas, dear daddy. Você aí parado, divulgando fotografias, cartas alimentadas por erros gramáticas de amor. Todas as dicas, táticas, planos por água abaixo no meu tapete de cinzas, destroços, animais abandonados nas esquinas. Vivenciando cada paixão ao sabor dos humores, tumores enfileirados num rosto tão impróprio às rugas. O fim que eu preciso discutir. Os créditos finais do inferno com jazz ao fundo. Planeta vertigem que dizima o alheio dos olhos. Posicionando-me, talvez, diante do espelho citado relapsamente como um vício ou macumba. De repente a puta realidade que se reveste nas merdinhas. Volto pra casa com os olhos costurados de frieza, como se eu partisse/retornasse ao invés de transitar entre os meios – o desenho do cavalo estampado na almofada sem perdão. & por hora, da janela, tudo é o meu direito à invasão: herói de um só gesto. Braços dados na cartinha de despedida que parabeniza. Perco tudo & por tão pouco me desprendo. Aves de rapina, queridinha. Não me dediquei por demais ao objeto que eu perderia? A culpa monopolizou geral os rostos dos dois amores que me matam de inveja – como se dois cactos, três cactos, infinitos cactos fertilizassem o solo, os solados, os solavancos dos pés. Água na boca da esmeralda, partido alto sem um mero oi ao acaso. Palma da mão perdida no mar onde tudo é âncora. Cigarro após cigarro nos fios de riscos negros da zebra perdida na savana.

[17.6.12]

18 comentários:

  1. Gosto muito de textos assim, Antônio, surpreendente.

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  2. ah, mas eu gosto tanto de tudo que você escreve... me faz ir e voltar, procurar o fio que eu perdi, qual momento me perdi.
    excelente!

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  3. Você e esse incurável misto de James Joyce com James Dean.

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  4. "Não me dediquei por demais ao objeto que eu perderia?"

    Você também?

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  5. "Os créditos finais do inferno com jazz ao fundo". Agora me lasquei... pensei em todos meus "erros gramaticais de amor"... Me lasquei de novo: Me dei conta que tornarei a comete-los. Ganhei o dia!

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  6. "Palma da mão perdida no mar onde tudo é âncora". Adorei isso! No mar podemos afundar ou boiar. Afundamos quando ainda não sabemos boiar. Uma vez que aprendemos, a escolha de afundar é nossa e não do mar.

    Bjo!

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    1. Esse seu comentário foi demais, muito boa sua interpretação moça. "_"

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  7. de tanto que por aí anda só tu me fazes lembrar Burroughs...

    e que saudades tenho dele

    beijo

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    1. burroughs?
      nossa, não chego nem aos pés, querida. :)

      beijo

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    2. mas andas lá muito perto, acredita...
      eu acho...


      beijo

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  8. E lentamente o preto se cria no branco... o fumo na luz, o fogo no ar. E as palavras? Na magia e na intensidade desse teu talento!

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  9. Uma confusão doida esse texto. Muita informação, muita coisa calada ai dentro, eu acho. Uma rotina desabafada, contada, expulsada de dentro pra fora. Com toda força.

    Parece meio complexo esse mundo, talvez sejam os devaneios dos cigarros, a fumaça na sua memória, sei lá.

    Só sei que, no final, é bonito, estranhamente bonito sua maneira. E seus finais, inusitados, até.

    Até breve homi. "_"

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  10. Admito que já ganhou minha simpatia com Tyler, the creator na imagem. Mas eu não posso deixar de comentar que vc escreve fodamente bem. Sério, adorei o texto.

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  11. simplesmente maravilhoso o teu texto, parabéns! finalmente um blog de qualidade.

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