13.10.13

ALÔ, HOFFMAN?


sons de carros bufando seus gases, rumores tóxicos, notas musicais da regra animália enquanto indivíduos; & nós, os fracos, sim – transpiramos a tal vontadezinha de esplendor que nos alimenta enquanto ensaiamos um ai em prazer omisso, sempre omisso.
deixo você me morder por inteiro durante o meu breakfast da boa conduta. decoro meus lábios & cílios num tango argentino de mero desesperado – as tuas cartas de amor se extraviam  & desaprendi as regras do ofício como quem se contenta com material pornográfico.
acelero os passos, encurto os corredores, lavo a louça quando é preciso & dou o meu melhor no momento “vamos guardar o arroz na geladeira”. é que ainda sinto uma tensão de fios elétricos quando ele me abandona & descobre novos ares, como se o meu grito, enfim, o organizasse perfeitamente na vida.
sucumbo pela falta de dinheiro & ascensão.
ele, o trágico amor descalço, é um filho insensato que não respeita conselhos de mãe, madrasta, meretriz. & ainda me perguntam sobre as foices do destino. as foices do destino descosturando flores enquanto caio de quatro na calçada.
katherine surgiu com olhos de lebre & desmarcou nosso encontro, pois quis favorecer outras conquistas. roí as unhas até o sabugo numa espécie de ânsia que empalidece as aventuras de uma puta fantasiada de lady. acabei forçando a barra & não permitindo que eles – oh doces inimigos – virassem de costas, amáveis diante do tal palco imaginário, pois sou um trabalhador braçal inserido na multidão de artistas & publicitários de merda.

hoffman telefonou & marcamos jantar. em duas horas estaríamos cara a cara & inundados num silêncio de cão. banquei o herói & fingi inúmeros descontroles emocionais que ele tanto gosta. ele não sabe que os solavancos da vida nos enchem de uma esperança mumificada. a minha liberdade é para ele mera obsessão pelo zodíaco & afins. não puxo assunto enquanto me entupo de um peixe à delícia meia boca. a noite se desfaz sem sucessos & me contento com mais uma cerveja geladíssima.

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