Texto
revolta manifestação íngreme. Mil mortes no decorrer do tempo. O cu que
prolifera, insiste, reclama de teimosia. Você é um monstro, ou libélula depois
do dilúvio. Morre sempre ao entardecer, não pede desculpas. Cheque milionário
em barras de ouro. O cu é o poder. O cu não é o poder. A contemporaneidade do
cu, gata. Uma armadilha que você mete o dedo e imagina um pau imenso. Autoexposição
que não importa, pois ninguém aqui é mestre, entidade, rainha de bateria,
princesa luxuosa, puta de esquina, trapezista cega. Morro de vergonha de nós,
inclusive. Intelectualidade de sofá, bom mocismo de sofá, heterossexualidade de
sofá, beleza de sofá, relevância de sofá. O sofá que suporta o teu coração-cu
do mundo. Todos somos seres bizarros e você tem o cu maior da estratosfera. O
meu cu é o x da questão, não tenho medo, pasmo de horror, profundidade rasa,
pele de pêssego, coito anal, linha reta retardatária, o reto. Lembra então
daquele boy fantasiado de pantera? Lembra então do beijinho doce no espelho
enquanto você desmascarava o cu como naquele filme do cineasta famoso que não
sei ao certo porque sou burro? Eles só falam e piscam os olhos por motivos
relacionados aos paus, aos pelos, aos cus, aos músculos, ao que não condena, ao
que apenas cola. No entanto o cu é um beijo, uma forma de dissociação. A recusa
do meu cu e suas pregas. Todas as pregas da humanidade. I´m not ashamed to say
it out loud. As minhas contas continuam aqui, vencimento do cartão de crédito
dia 5, vencimento da conta de telefone dia 2. Preciso urgentemente fazer um
retiro íntimo, confessei ao amigo drogado e artista, pessoa agradabilíssima,
sincera, magra e desmedida. Você nunca imaginou um orgasmo aos olhos de um cão.
O cu de um cão é o terceiro olho que você deveria manter longe apenas das
aparências. Porém todos os cus morrem, sofrem de solidão, caem entre quatro
paredes, se escondem nas esquinas das ruas, na viela das cidades estranhas. O cu
é também a sensação cósmica do ser. O cu é uma sensação cósmica, é prova de afeto
e aceitação sem sobrancelhas franzidas. Ontem, por exemplo, tive um momento
epifânico enquanto eu imaginava o cu da humanidade. Eu e a existência. Eu e o
cu da existência. O cu é ousadia. É viajar para a América Central num ônibus
caindo aos pedaços. Todos nós caímos aos pedaços, uns percebem, uns são
descontentes e provocam aquela torta de climão. Torta de climão sabor cu. Sobremesa
na imensidão que condena condena condena. Morde e arranca o pedaço arranca o
pedaço arranca o pedaço, pois as leis gramaticais não têm cu; elas são peixes
num aquário raso. Você é um peixe raso e todos os teus poros são cus em
potencial. O cu que tudo pressente como num suspense italiano. Mas eu não me
envergonho e eu apenas me deixo ser, sem qualquer explicação sobre os motivos
que me levaram a tentar entender o cu em plena tarde de sábado onde eu deveria
estar num churrasco, tomando cerveja, fingindo paz e amor e com um ódio mortal
em formato de cu tatuado na testa. Não me envergonho, pois o meu cu também é
rota de diamantes, paisagens e hemisférios.
Acertou na veia grande LaCarne: "todos os cus morrem". Texto fantástico. Cu no luminol. Abraço.
ResponderExcluirTadeu S.
Anônimos que assinam com o nome. Adoro.
ExcluirTroquei a palavra "cu" por "ser" e o texto pareceu muito consistente pra mim (se trocasse por "pessoa" também faria sentido). Ou seja, estava citando anônimos aí. Posso estar errada, cada um tem o seu jeito de interpretar o que lê....
ResponderExcluirEsse seu texto me fez lembrar uma célebre frase dita no filme "Tatuagem" pelo magnífico ator Irandhir Santos: "só existe uma utopia possível. A utopia do cú!" O filme deve entrar em cartaz em novembro. Não deixe de ver!
ResponderExcluirBjos