23.7.13

CORAÇÃO DE AQUILES


1. você acorda e enxerga o mundo. você deveria ser parte do mundo. abrir os olhos, encarar a realidade e planejar uma performance bacana, colorida, sem preconceitos.

2. Whitman disse que: “um homem não é apenas aquilo que está compreendido entre os pés e a cabeça”.

3. há dias tenho acordado no feeling Dôra, Doralina: vontade de fugir da fazenda, me instalar na Rua Floriano Peixoto, ser datilógrafo numa companhia de teatro dos anos 70 e depois ir me casar no Rio.

4. Ana C dise que “a gente sempre acha que é Fernando Pessoa”. A gente sempre quer provar o improvável.

5. eu queria penetrar no impenetrável, mas nunca consigo, e se consegui algum dia, isso não faz a mínima diferença.

6. tudo o que a gente precisa, de vez em quando, são de 25 gotas de rivotril.

7. “Lázaro, volte para casa” – William Burroughs.

8. “A mulher sem cabeça” da Lucrécia Martel, me representa.

9. The art of losing isn't hard to master”. Elizabeth Bishop deu a dica e você não entendeu.

10. aí Anne Sexton vem e diz que “viva ou morra, mas não envenene tudo ao redor” na minha tradução livre do absurdo.

19.7.13

FÉ NO VERÃO





A inspiração surgiu numa noite monótona de quinta-feira com a edição de junho da Vogue Brasil nas mãos e um punhado de revelações catastróficas na cabeça.

15.7.13

MY NAME IS WOMAN




você deveria ser uma pessoa sozinha & relevante no mundo. mas eu não queria engordar & perder este rosto. eu não preciso abrir os olhos às duas da manhã, desorganizar toda a história. sozinho & trancado, não é apenas a parede do quarto, é também o meu livre arbítrio. Antônio LaCarne

9.7.13

leather


todas as bruxarias que você construiu
despencam sobre o meu jeans culpado de tudo,
desabotoei a camisa & me pus sobre travessas de inox
tão verticais quanto o beijo que você morde & assopra,
aí sou a pessoa ferida mais legal do mundo,
nego a violência & as páginas de ménage à trois na internet,
mantenho o carão diante dos arbustos que você cuspiu,
o girassol de uma mão que me afaga as lágrimas,
rasgação de amor que não me protege das rugas,
os centímetros que fariam de mim
a pessoa mais sexualizada do universo.

peço um cigarro e você não tem,
eu percorro a existência da noite & me tranco em banheiros,
do bolso possuo as armadilhas lindinhas
que se resumem em uma, duas gramas da lucidez
pré-fabricada pouco depois dos dinossauros,
você também não me esquece,
critica o fato dessa intolerância esquizoafetiva
ser publicamente devorada nos livros que você não escreveu,
por isso morro de vontade.

Imagem: Arno Minkkinen

5.7.13

no thanx

olha só, eu me tornei uma pessoa intolerante. mais intolerante ainda (intolerante seria a palavra correta?), o que na verdade é algo positivo, pois nem eu, nem você, somos obrigados a passar por nada que nos constrange, diminui, fode, entristece.

eu não quero interpretar papeis nunca mais na vida. em agosto completo X anos. o tempo foge das mãos e quando você menos espera a farsa toma conta dos olhos, espírito, coração.

ninguém compartilha suas dores, nem todo mundo é capaz de um conselho ou ombro amigo. cada um por si de acordo com seus próprios princípios. eu tenho os meus, preciso viver em função deles. sou mais feliz assim.

eu não preciso ser bonito, relevante, inteligente. eu preciso ser eu. ter o direito de ser eu mesmo.

ando cansadíssimo de muita coisa. sensibilidade, infelizmente, é algo para poucos. raros, no caso.

3.7.13

SPRING BREAKERS (EUA, 2013)


Não como fã, mas como grande admirador do talento que é Harmony Korine, acabei por ser vítima de um mal que me é extremamente comum: a expectativa.

Spring Breakers é visualmente bonito, coloridinho, praticamente o videoclipe de um rapper ganster viciado em drogas ao redor de mulheres nuas. O vazio argumentativo impera.

Li inúmeras resenhas favoráveis ao filme, aquele tipo de crítica que expõe nuances inimagináveis, que desenterra questões a respeito da subcultura hedonista, da iniquidade existencial, do incontestável descontrole da juventude moderna inconsequente etc. Preguiça, muita preguiça. Inclusive não tive saco e a tecla pause foi a salvação em pelo menos umas cinco vezes.

O filme é extremamente arrastado e flerta com o melodrama que não cola, tudo isso embalado por uma trilha-sonora que “impressiona” pela batida, mas não pelo conjunto visual da trama –  afinal os noventa minutos de filme seriam facilmente cortados e transformados num curta de dez (minha pobre opinião desnecessária).

O que me leva a crer que: em tempos de Spring Breakers, The Bling Ring é o orgasmo que já não precisamos fingir. Até hoje Sofia Coppola nunca me decepcionou e ela soa como uma salvação possível.

Selena Gomez cumpre bem o papel de gata insossa e infantilizada. Vanessa Hudgens continua extremamente unsexy num biquíni que realça exageradamente a falta de atributos (beleza) que ela ostenta. Hudgens pra mim sempre foi um porre.

James Franco (suspiros) é o ponto positivo, continua lindo mesmo montado negativamente. Spring Breakers faz também inúmeras referências a Britney Spears (sério?), particularmente quando as quatro garotas cantam Baby one more time e Everytime (ao piano junto com próprio James Franco num lance surreal da coisa).

Harmony, sweetheart, dessa vez foi foda.

2.7.13

é mad max mesmo

de novo aquela sensação de louca, para sempre louca, porém horrivelmente bela.

sozinho em casa, sigo através dos cômodos em busca de bitucas de cigarros fumáveis. mas eu não me transformei numa pessoa difícil, é só o mundo que me entende menos. a minha intolerância é congênita. a realidade das coisas e  das pessoas só te desestimula. ou melhor, me desestimula pra caralho.

mais uma vez caio na previsibilidade das insatisfações. virginiano tremule. carne trêmula. almodóvar que não se manifesta.

hoje fui sozinho ver a exposição do leonilson e me deparei com a seguinte frase que me confortou o coração: “As pessoas estão com medo da economia, com medo das pestes, com medo de se botar para fora – porque é Mad Max mesmo. Se você faz uma poesia, você é tido por babaca. Se você é honesto, você é babaca. Se você acredita em Deus, você é babaca.”

até agora, como fui babaca, dear lord...

não perdoo a injustiça do mundo, não perdoo a minha própria injustiça. encolho as asas, releio o poema 5 do “abra os olhos e diga ah!” do piva e encaro os meandros do destino.


aí sentei sozinho num bar, pedi uma cerveja, cruzei as pernas, planejei a papelada do divórcio.