no dia em que o
papa desistiu da papa de cremogema, eu tive um dia particularmente horrível no
sentido pessoal da coisa. na verdade, o meu carnaval é assim: querendo que você
vá pro inferno. quase fui às lágrimas por cada constatação estranha, cada
visualização de foto absurda e injusta no facebook e instagram da vida. o lance
merda babadeira sem tamanho, pois cansei, queridos leitores, do mimimi ao
extremo, que eu, sofrendo pencas de bicudas de nervous breakdown, sou obrigado
a passar (muitas vezes por escolha própria).
ay que horror!
cheguei em casa
emputecido e fui rever “o sétimo selo”
do bergman. depois li 2 contos do fabulosíssimo joão do rio. os contos são “o bebê de tarlatana rosa” e “o homem da cabeça de papelão”. fui então
aos poemas da ana cristina cesar que amo desesperadamente, mas não pude
continuar quando soube, pela milésima vez que, “é sempre mais difícil ancorar no navio no espaço” – o tipo de recuperação da adolescência que só ela,
tão única, soube lançar aos quatro ventos através de sua obra.
em seguida me
tranquei no quarto, organizei meus papeis, tentei escrever um poema para um
suposto livro de poemas. mas desisti, estava derrotado como só eu sei, como só
eu percebo – fudido no sentido figurado da coisa, ao invés do sentido literal
(pois teria sido uma delícia).
mas comigo é
assim, a ressaca moral começa antes da farra, no dia seguinte só percebo a
constatação da merda em que eu, você, todos nós nos encontramos. tudo está
completamente desprotegido. enquanto eu me canso e choro, você, filho da puta,
adquire uma doença sexualmente transmissível por aí.
e não adianta, ou
melhor, super adianta saber que enquanto todos dançam, trepam e gozam, eu estou
aqui, refletindo sobre a minha puta vida.
perdi a chance de
vestir nesse carnaval minha linda camisa boca de se fuder, por escolha própria.
perdi a chance de fingir nesse carnaval que tudo está lindo e maravilhoso e que
essa cidade é a melhor cidade do mundo, por escolha própria. perdi a chance, nesse
carnaval, de beber por tabela e exagerar nos barbitúricos, por escolha própria.
chacal escreveu
assim, e isso me define: “vai ter uma
festa/ que eu vou dançar/ até o sapato pedir pra parar. aí eu paro/tiro o
sapato/ e danço o resto da vida”. lindo, né?
pois é isso,
depois desse carnaval, vou dançar pelo resto da vida.
Me chamou atenção principalmente um trecho lá pelo meio do texto. "Enquanto todos dançam, trepam e gozam, eu estou aqui, refletindo sobre a minha puta vida." - esse também é o meu carnaval.
ResponderExcluirCara você é sensacional!
ResponderExcluirTambém perdi meu carnaval esse ano, por vontade própria, quis fechar o feriado em cima de mim e perdi vários dias de diversão (?) pra lutar contra algo que nem eu entendi direito o que é. Faz sentido?!
Que essa sua dança seja boa. haha
ótimo texto, cara!
ResponderExcluirTambém perdi o carnaval. Eu gosto de culpar a monografia, mas a verdade é que eu é que não quis sambar e personifiquei a responsabilidade. Não doeu tanto.
O amor é horrível, mas um dia sai na urina. E escrevemos melhor quando estamos despedaçados. É a nossa pequena vingança. Escritores são pelicanos de rapina. Grande texto.
ResponderExcluirTadeu S.
Sempre fico muito feliz quando você, Tadeu, perde um tempinho do seu tempo e vem comentar no meu humilde blog. Pra mim é mais que uma honra. Abração!
Excluiro carnaval devia ser como o natal, quando a gente quisesse, não?
ResponderExcluirbeijo
Só podia ser virginiano. Que "tanta coisa" envolve os virginianos.
ResponderExcluirEnfim, primeira vez por aqui e gostei do que vi e do que li.
Este ano eu me perdi do carnaval. Eu queria viajar pra outro lugar, mas não rolou. Então eu me perdi da data para não me enfurecer.
Beijos
Pâmela Rodrigues
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Visão deprimente do Carnaval. Aliás, o outro lado da coisa,heim? E esse "dançar pelo resto da vida" me deu aquela sensação estranha de "Ih,me dei mal"....
ResponderExcluirPensei nas muitas formas de se dançar no carnaval. Sempre danço. Mesmo quando tudo parece felicidade o final é triste. Valeu!
ResponderExcluirOlá LaCarne, como tou sempre olhando por aqui, me deparo com isso: muito bom, muito bom. Mas é por aí, tenho uma relação de amor e ódio do carnaval, mais ódio à medida que envelheço rs...mas a minha cereja neste post foi a citação de Ana Cristina Cesar "a dor visivel do poema/ a luz prévia Dividida Mas calo a superfície negra pânico iminente do nada".
ResponderExcluirps. Meu carinho meu respeito meu abraço.