31.1.13

vou desenhar um tubarão que te arranca as metades


O lamentável silêncio das horas. Um dia que, por ser tão vago ou insosso, se transforma em água turva quando penso em você diante do computador. Um texto sobre o gato escaldado próximo ao muro, o futuro, a fatura do cartão de crédito. Um coração humano de papel. Nós aqui sem perdão, tanta gente perdida naquela sensação sem rosto. Qual é mesmo o nome? Qual é a cor do que, sem jeito certo, eu tento te explicar? Sair por aí de bobeira, postergar o livro de cabeceira, fumar outro cigarro, não cuidar da dieta, cortar o cabelo, se desvencilhar do que não faz falta. Nosso assunto no escuro quando acordei sombrio em pleno meio-dia. Pairando na vida e acordando, cumprindo horários, os rastros das mesas, das cervejas, dos abraços apertados. As cartas presas na indolência da boca que só preza assunto corriqueiro, piadinha, ironia, frases de efeito. Mas se existe uma falha, cria-se um blog como terapia, pois é preciso botar pra fora. É preciso criar listas e um plano, livrar-se das barras. E se você promete uma certeza, os olhos lançam brilhos, as tensões desabam, passo a querer você por perto, como cúmplice. Liquidificador que mistura a minha alegria ao redor do mundo, mas depois tudo se transforma em poeira; as estações passam e a gente ganha outro ano nas costas. Felizmente passo a ser eu mesmo, deixo umas palavrinhas registradas, registro aqui e ali uma marca, um calo no pé, um desfile na passarela. Tranco as portas e escondo a chave no peito. Fecho os olhos e por você não ponho minha mão no fogo.

11 comentários:

  1. "Mas se existe uma falha, cria-se um blog como terapia"

    Tem coisa melhor? Eu mesmo as vezes acho que falo até demais no meu blog.

    ResponderExcluir
  2. A gente só precisa colocar pra fora. E quando não se tem ninguém por perto disponível pra nos ouvir, a gente cria um blog, escreve pra quem talvez nunca vai ler. Mas, principalmente, colocamos o que incomoda de casa pra fora.

    Boa noite,

    ResponderExcluir
  3. Saudade de te ler. Vontade que deu de imprimir isso e amassar perto do peito. Me lembrou a época de escola em que eu lia Fernando Sabino e sofria com os personagens dele, que são tão engraçados, mas sofridos.

    ResponderExcluir
  4. Resumiu tudo, Antonio!
    Sinto-me assim por várias vezes, esse aperto no peito é corriqueiro, algo gigante querendo sair da alma, passando pelo coração...
    Grande abraço e sucesso!

    ResponderExcluir
  5. O texto soou a mim como algo que se vai dizendo numa conversa, espontaneamente. E essa é uma das poucas vezes em que eu posso fazer tal afirmação sobre um texto que, de fato, encantou-me.

    ResponderExcluir
  6. Já gostei até do título ehehe, adorei

    Lá no meu blog tá rolando sorteio, confere lá depois! shelikesrockn-roll.blogspot.com

    ResponderExcluir
  7. Como tô meio possessiva, acho que desenharia um polvo, que agarraria todas as partes e traria pra mim.

    Acho engraçado que não tenho colocado minha mão no fogo faz tempo, mas venho me queimando mesmo assim, acho curioso.

    ;**

    ResponderExcluir
  8. "Mas se existe uma falha, cria-se um blog como terapia, pois é preciso botar pra fora."
    mão no fogo? coloco também não.
    gostei do que li por aqui.

    ResponderExcluir