Eu queria muito que
você entendesse que os dias chuvosos me ajudam a reciclar dramas.
É incrível, mas acho
tudo uó e sem um pingo de sensibilidade.
Aí roubo a frase da senhora Lispector (hoje arroz de festa nas redes
sociais) quando ela diz que “o mundo
precisa mudar para que eu possa caber nele”.
Triste fato, o céu
nubladíssimo destrói a coragem que eu deveria ter rumo ao trabalho em plena
área metropolitana (e alagada) do meu Brasil.
Portanto, eu sou
corajoso. Eu sou o pior e o melhor de minha espécie. Mas há quem diga: antes um
marido rico e três filhos gordos...
Por isso acendo mais um
cigarro e postergo o momento do banho, da escolha da roupa, das lentes de
contato – arrumar a bolsa com livros, diários de classe e atitude de professor.
Esse é o meu ato, o meu protesto numa espécie de coragem em plena quarta (de
quinta) prestes a desabar outra tempestade.
(Três filhos gordos
gerariam problemas insolúveis, apesar da beleza-fofurinha que eles exalam).
Aí desço as longas
escadas do prédio, pois na minha opinião infantilizada, descer é mais
complicado do que subir: você desaba e o chão desnivelado te espera, te engana,
te propõe surpresas. A falta de mobilidade urbana vem e te afaga os bagos. Não
há consolo. O marido rico é um totem imaginário dos sonhos. É nessas horas que
bate a revolta emocional contra a vida amorosa dos artistas, das pessoas
lindas, amadas e bem resolvidas de plantão.
Outro drama: é triste,
meus caros, saber que no mundo há pessoas que ficam belíssimas em praticamente
TODAS as fotos.
Mas no fundo, bem no
fundo, o que eu queria dizer é que em determinados dias há aquele feeling “preciso
me desapegar de certas coisas”. Algo tipo despedida em Las Vegas, sendo que Las
Vegas não é Las Vegas, e sim o fundo do poço.
O bom dessa modernidade
defasada das cidades é que no sábado tem o fuá, o baratismo que elas merecem.
Todas estarão colocadíssimas e trincadas até a alma. É tempo de escolher o look
certo e, infelizmente a máscara que você está disposto a usar para encarar sua
puta vida.
Ayúdame, por favor.
Lá fora um sol escancarante fator 38 graus do absurdo.
Antônio, vamos sair pra beber?
ResponderExcluir{falando sério, tô precisando}
ou SEJEEEE, estou trincada até a alma!
Excluireu topo. super.
ExcluirEntão é isso, escolher o look certo e colocar uma mascara pra encarar a vida? E na volta pra casa, quando você for se ajeitar pra deitar e não conseguir dormir? Talvez esse não seja um remédio. Então sai pra beber de cara lavada mesmo e com a primeira roupa que achar. Sai da rotina e pula uns três degraus da escada pra dá emoção. hehe.
ResponderExcluirAcredite filho, todo mundo tem dias ruins e chatos. Até os artistas.
Um quê de Wilde.
ResponderExcluire quem é que não tá trincando?
ResponderExcluirnossa, antônio, eu adorei esse texto. um dos melhores que eu já li aqui (e quantas vezes eu já não disse isso?).
Essa coisa súbita que aparece assim, "preciso desapegar" tem sido a agulha, cada vez que me vem uma agulhada vem a certeza da necessidade pra esvair da Maia (deusa oriental da ilusão). Que sigamos no caminho certo.
ResponderExcluiresse final de texto...
ResponderExcluirgosto dos dias nublados, gosto do fuá, nem espero o sábado, aliás, acho que hoje completo minha terceira semana composta apenas por sábados. É o desemprego, o desespero, o desapego, a falta de vontade, sei lá.
muito bonito!
um abraço!
Ok, me identificando...
ResponderExcluirPrincipalmente, na parte de pegar os diários de classe e ter atitude de professor....
Seus textos continuam ótimos como sempre (sem mentira ou exagero) :)
Saudade desse cantinho, mas o bom filho a casa torna..rs
ResponderExcluirDelicado seu texto!
Aproveito pra avisar que acabo atualizar a acanhada Narroterapia com o segundo capitulo do conto Sempre Haverá Pássaros, e quero muito seus comentários.
abraços
Fabrício
Cheguei a você por um amigo que me disse: tem um blogueiro que me lembra você, seu texto. O Lacarne. Aí pum, cheguei, fiquei super lisonjeada, e deu vontade de "fazer a íntima".
ResponderExcluirBeijo!
Thessa, quem foi esse blogueiro? Fiquei curioso! Ah, faça a íntima sim, adoro isso. :)
Excluir"revolta emocional contra a vida das pessoas lindas, amadas e bem resolvidas de plantão" define o sentimento. Inclusive, Las Vegas também. Só não vou pra lá por que não deve ser nem metade do que eu espero - e posso suportar tudo, mas a frustração eu não aguento.
ResponderExcluirantonio, que texto bom. todo autoral... como não tinha o costume de vir aqui antes, sempre. o tanto que você merece ser lido? de verdade.
ResponderExcluir"É tempo de escolher o look certo e, infelizmente a máscara que você está disposto a usar para encarar sua puta vida." Que realidade! (Que triste!)
Antonio, que texto mais 'real' é esse? Poxa, fiquei impressionada com a quantidade de frases e situações que me identifiquei.
ResponderExcluirQuantas ilusões, Tonico (Tenho permissão para te apelidar? ). As seguintes frases:
ResponderExcluir"É nessas horas que bate a revolta emocional contra a vida amorosa dos artistas, das pessoas lindas, amadas e bem resolvidas de plantão."
"É tempo de escolher o look certo e, infelizmente a máscara que você está disposto a usar para encarar sua puta vida."
Os artistas, as pessoas lindas, amadas e bem resolvidas, apenas usam máscaras well-done, em sua maioria de grife, outra parte em brechó bem chique. Até me desapontei em ler o final do teu texto, se houver gente bem resolvida, estão mortas - ao menos por dentro estão.
Só mais pseudo que esta gente "amada" é o céu nublado. Eu olho e me pergunto "devo passar protetor solar? ta sem sol" mesmo sabendo que os raios solares ultrapassam as nuvens escuras, eu saio sem protetor, só pra sentir a coragem que eu tenho de me suicidar aos poucos.
Abraços!
"o chão desnivelado te espera, te engana, te propõe surpresas". Sim, assim o é o tempo todo e talvez, assim precise ser.
ResponderExcluirBjos!