26.6.11

teoria


2:30 da manhã: crise de turbulência bufando ao meu redor. desmarquei encontros sucessivos com f., pois ele não abre a boca & me investiga de soslaio. lady unfair continua a soltar indiretas, quer circo pegando fogo & a morte dos macacos. jamais pedirei desculpas contra a vontade de andreas, meu tutor, quase mártir privado. comecei a leitura do livro sobre pessoas sem um mínimo de credibilidade, portanto há quem não resista aos seus encantos. por hora, estendi as roupas no varal, troquei a água do gato, esvazeei os cinzeiros. depois, tomar café com os amigos, ir ao cinema. no fim do dia, juntar as moedas perdidas na bolsa & comprar a última vogue. tal beleza que só é estampada em capas de revistas.

Imagem: Sandra Juto

20.6.11


Somos todos animais insensatos. Na encruzilhada de qualquer deus, sou o homem vestido de terra, céu & clemência. Os homens concluem reverberações impróprias. Anseio como bactéria.

Imagem: Maarji Castilho

16.6.11

I Feel Plastic (O neon da noite torna os meus olhos translúcidos no fogo)



deeper and deeper ao fundo como se eu transgredisse - lânguido - a década de 90 num grito de prazer enquanto a dor nos lábios preenche orifícios. por dois anos você foi o abutre febril & desonesto (doses homeopáticas de cinismo). vesti uma máscara doentia, transbordei cubículos hediondos com o meu esplendor de persona confessa contra o filho da puta tatuado no teu pescoço.

ou:

energias fundamentais guardadas para sexta: noite onde a escuridão é ofuscada por brilhos mecânicos. trancados no banheiro, ainda somos feras sem persuasão. nossos problemas se resolvem com o auxílio da moda, dos conselhos, das drogas, de ives saint laurent? absolutamente, não.

ou:

irei engolir o silêncio deste navio.

12.6.11

Paralelo Desigual

Há pouco mais de dois anos, em abril de 2009, saiu meu primeiro livro de prosa-poética com o título de Elefante-Rei: Poemas B (quando eu ainda usava o nome de Antônio Alves Neto). Foi uma edição minúscula & o meu intuito não foi o de criar muito alarde, pois em todos os textos do livro, mantive o posicionamento/atmosfera extremamente confessional. Ao meu ver & orgulho, pude concretizar minha primeira manifestação artística: uma pequena obra de arte às escuras, sem pretensão & com a dignidade de um mero amador com um leque de idéias poéticas na cabeça. Por algum tempo quis me afastar completamente do livro, mudei a alcunha para Antônio LaCarne & hoje estou aqui a memorizar o que um dia fui. Relembrar faz parte da vida.



Paralelo Desigual

Intacto é um muro de pedras, e depois de mim vem o poço. O buraco no muro é um silêncio morto. Cumprimentem o primeiro sol, deitarei na cama para esticar os ossos e a visão do teto será a única paisagem. Sou autorizado a ter dois olhos míopes, mas alguém ao meu lado ousa dizer: "isso nunca será de sua posse".

Reconstruo a farsa: cumprimentem a segunda casa, as paredes do quarto estarão impressas nos pedaços de madeira das portas, na areia presa ao meu sapato. Ouça então um grito, não se trata de horror, é gemido agressivo, carta de alforria ao escravo livre.

Eles permitem que eu veja a palma de uma mão. Eles permitem que eu vá embora. Se volto, eu perco. Se continuo, estaco. Chorar é um vazio que o organismo rejeita. São raras as noites de frio, e o lençol é um manto devastador para os minutos de corpo-a-corpo.

Mantive meu segredo. Meus pés descalços confortavam as raízes das árvores. Num esconderijo recém descoberto fumei cigarros. Sou Antônio entre quinas e rodapés. Ao ruim do gosto tomo-lhe as pálpebras. Despeço-me do trem anunciando sua fuga: máquina veloz correndo indiferente.

Eis que transtornado exibo um rosto plastificado. No meio de uma surpresa doméstica somos cobras falantes, não temos gesto e o futuro nos desune. Nossas carcaças vivas abduzem mortes corriqueiras. Somos considerados culpados: vastidão transfigurada no anseio de um pedido. Eu, sem os adornos que escondem uma vergonha.

Aos poucos me distancio e me aproximo de mim mesmo. Perderás o medo em um dia de vida. Cobriremos o terceiro sexo com um possível terceiro braço.

Em revolta quebro as lápides que sustentam o alvo. Ao fazer uma pergunta perco toda a essência. Ser translúcido para conquistar o amor. Mas o que eu quero é um amor côncavo.

Aos poucos me distancio e me aproximo de mim mesmo. Aos poucos me reconheço.

8.6.11

Babilônia jamais revisitada



"There was a rough stone age and a smooth stone age and a bronze age,
and many years afterward a cut-glass age".

(F. Scott Fitzgerald in The Cut-Glass Bowl)


Virginiano com ascendente em Áries e lua em Peixes. Este sou eu - sob o céu azul da metrópole desgarrada. Rosto desenhado no asfalto às duas da tarde enquanto o horóscopo da vida (numa terça, dia 7) estampa nas páginas do jornal a grande dúvida entre o "quarto crescente" (onde me exponho) e a vontade de cair na esbórnia. Não compreendo os dias inaptos ou aqueles dois sentimentos infames que se multiplicam na toca do coelho. A simbologia dos quadros, dos rostos sem moldura rompe (e não reflete) o meu horror.

Imagem: Maarji Castilho


4.6.11

eu simplesmente perderia o meu rumo



Eu me despi de você e ainda não encontrei volta. Perdi centenas de formas ao associar cão mudo versus cão abandonado na cidade - quando era eu a ladrar e a corroer o tempo. E me perguntam - atingidos pelo meu delírio - o nome do objeto, o nome do meu encontro às claras. Esgotei em cada assunto o que me era importante, como se ao abrir os olhos - aparentemente inatingíveis - eu suspirasse aliviado por uma dor histórica e tão comum aos homens de estimada predileção.